HOMENAGEM A ROMEU FERREIRA FILHO
Romeu Ferreira Filho é um homem de múltiplos talentos (artista plástico, pintor, escultor, ilustrador, desenhista, muralista, arte-terapeuta e arte-educador).
No dia 04 de abril de 1952, nasceu o menino Romeu na cidade de Itapetinga-BA, filho de Romeu Ferreira de Melo e. Maria dos Santos Melo. A família mudou para Vitória da Conquista em 1955.
Romeu desde pequeno gostava de construir seus próprios brinquedos e de desenhar. Teve uma infância feliz e uma adolescência cheia de sonhos, como a maioria dos jovens da época. Estudou no Colégio Paulo VI onde fez alguns murais.
É graduado em Estudos Sociais e História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, Especialista em Arte Barroca pela Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP e Especialista em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ.
Sua obra é dotada de uma sensibilidade singular e retrata os problemas sociais enfrentados pelo homem sertanejo, que são revelados nos seus traços perfeitos e inconfundíveis, mostrando todo o seu talento.
O Memorial Heleusa Figueira Câmara o parabeniza pelo seu aniversário no último dia 04 do corrente mês e pela sua trajetória de vida sempre trabalhando pela arte.
Por: Ebeilde Araujo Pedreira Goulart.
Vale a pena conhecer o site do Romeu. Aqui está o link:
HOMENAGEM A HENRIQUETA PRATES DOS SANTOS SILVA
No dia 30 de abril de 1863, nasce a menina Henriqueta na Fazenda São Pedro, atual distrito de Campinhos, em Vitória da Conquista - BA. Filha de Estevão Prates e Maria Vitória Moreira Prates.
Sua infância transcorreu de forma tranquila, brincando com bonecas e entoando com as amigas cantigas de roda, nas tardes de domingo. Tinha uma mente ávida pelo conhecimento e como em seu tempo meninas não frequentavam escolas, às escondidas, aprendeu a rabiscar o seu nome e inteirou-se das primeiras letras.
Tornou-se uma bela moça e despertou uma forte paixão em José Sátiro dos Santos, Tenente da Guarda Nacional, que chegou em Conquista no dia 01 de agosto de 1845, vindo da cidade de Nazaré, BA. O namoro dos dois foi aprovado pelas respectivas famílias, e os encontros só eram permitidos na presença dos familiares ou da mucama, conforme os rígidos costumes da época. Casaram-se em 1883 e tiveram sete filhos: Esteliano, Leôncio, José Sátiro Filho, Otávio, Guiomar, Leonor e Maria Vitória.
Em 1897 aos 34 anos, D. Henriqueta fica viúva e começa sua luta para assumir a chefia da família e criar os seus filhos menores, sendo que a filha mais nova, tinha apenas 08 meses de idade.
D. Henriqueta era uma mulher inteligente, corajosa, muito sensata, desprovida de preconceitos e dona de um coração bondoso.
Praticou ações humanitárias relevantes que ajudaram muitas pessoas excluídas da sociedade. Ela acolhia em sua casa pessoas doentes e cuidava pessoalmente, dando remédios, alimentação e carinho.
Tornou-se uma grande conselheira para os políticos da época e referência como uma mulher que lutava pelos direitos humanos.
Atualmente, sua casa abriga o Museu Regional de Vitória da Conquista, criado pela UESB em 1992, durante a gestão de Pedro Gusmão. A Profª. Heleusa Figueira Câmara o dirigiu com muita dedicação e competência no período de 1995/1996.
HOMENAGEM A ERATHÓSTHENES MENEZES
Erathósthenes Menezes nasceu em 15 de junho de 1908, no Arraial de Lage do Gavião, Distrito de Gameleira dos Machados, que pertencia ao Município de Brumado, hoje Município de Aracatu, na Bahia. Filho do ilustre professor Abdias Menezes e Brazilina Machado Menezes. Aos sete anos veio com sua família morar na Vila de Angicos, atual Distrito de Iguá, no Município de Vitória da Conquista.
Começou aos 12 anos a fazer poesias e escreveu uma em homenagem ao Sete de Setembro, que foi publicada no jornalzinho “O Porvir”, edição de outubro de 1921, jornal esse fundado e dirigido por seus colegas. Ainda na adolescência, publicou o livro de trovas “Iracy e Teodora”.
Na sua juventude foi comerciante e viajou com tropas pelo norte de Minas Gerais e pelo Sertão da Bahia. Com essa atividade de tropeiro, não ganhou dinheiro, mas ganhou muitos conhecimentos. Dedicou parte do seu tempo aos estudos literários e muito inteligente tornou-se professor autodidata, ajudando o seu pai Abdias na direção do “Colégio Vitória” em Angicos e depois se tornou professor do Educandário Sertanejo, dirigido pelo grande educador e poeta Euclides Dantas.
Em 1930, tornou-se sócio do Grêmio Dramático Castro Alves, uma entidade criada pelos intelectuais de Vitória da Conquista.
Em 1934 na Vila de Iguá (antigo Angicos) exerceu o cargo de Escrivão de Paz por quase 30 anos. Durante muitos anos foi Tabelião de Notas do 1º. Ofício da Comarca de Vitória da Conquista- Ba.
Em 1938, foi um dos fundadores da “Ala das Letras de Conquista”, organização que se assemelhava à Academia de Letras. Participou ativamente de todas as Associações Literárias em Vitória da Conquista.
Casou-se em 1950 com Marcolina Lopes Freitas, com quem teve sete filhos: Vilma Celeste, Vanda Maria, Sônia Volúzia, Telma, Selma, Marco Antônio e Erathóstenes Menezes Júnior.
Foi Presidente da Academia Conquistense de Letras durante dois mandatos (1983/1986). Em 1986 passou a presidência para Heleusa Figueira Câmara, após ser eleita como a primeira mulher a assumir a presidência da ACL.
Como cronista, colaborou eficientemente para os jornais: O Sertanejo, o Jornal de Conquista, o Combate, o Conquistense, Avante e o Labor. O poeta criado no Distrito de Iguá, à sombra do mulungu, formou seu senso de observação e os transcreveu em singelas expressões poéticas, demonstrando a sua admiração pela natureza e pela vida rural.
Foi Vereador no período de 1966 a 1970, sendo escolhido pelos seus pares, para Vice-Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista - Ba.
Recebeu várias comendas, a Academia de Letras da Bahia e o Governo do Estado outorgaram o maior prêmio a um intelectual vivo: a Comenda do Mérito de Castro Alves, sete meses antes do seu falecimento.
O poeta Erathóstenes Menezes ficou imortalizado na história conquistense por sua contribuição em vários campos, se destacando como Patrono do Tiro de Guerra de Vitória da Conquista, Professor, Escrivão de Paz, Mestre Maçom da Loja Maçônica Fraternidade Conquistense, foi um dos fundadores da Academia Conquistense de Letras, Poeta e Vereador.
Faleceu no dia 15 de novembro de 1986 aos 78 anos de idade.
Em 2008, em homenagem ao centenário do seu nascimento, foi publicado o Livro “O Poeta do Mulungu”, escrito por Durval Lemos Menezes, seu sobrinho e prefaciado pela Profa. Heleusa Figueira Câmara que finaliza o prefácio dizendo “E como a poesia é vida que perdura, é sonho que se materializa, pode-se reafirmar que Vitória da Conquista e todo o seu povo reconhecem e dão fé ao homem, sempre poeta, Erathósthenes Menezes”.
O Memorial HFC sente-se honrado em homenagear esse ilustre cidadão que mesmo não sendo conquistense nato, soube amar a cidade onde escolheu para viver, trabalhar e criar a sua família.
Consultas:
Erathósthenes Menezes: Escritor, Vereador, Patrono do Tiro de Guerra e… Tropeiro. Por Maris Stella Schiavo Novaes. Link: Carreiro de Tropa - Erathósthenes Menezes
Revista da Academia Conquistense de Letras. N° 1. Dezembro de 1988. pág. 35.
O poeta do mulungu: Erathósthenes Menezes / Durval Lemos Menezes (Org.). - Vitória da Conquista: 2008
Mãos que Ajudam em Vitória da Conquista (https://www.facebook.com/watch/?v=682592298936043)
HOMENAGEM AO PADRE JOSÉ LUIZ SOARES PALMEIRA
Educador de Excelência
José Luiz Soares Palmeira nasceu em 25 de junho de 1906 no Rio de Janeiro. Filho de Miguel Soares Palmeira e Tereza Soares Palmeira. Seu pai era de uma família tradicional alagoana, tendo o título de Barão de Curiripe e sua mãe era descendente de uma tradicional família francesa radicada na Áustria.
Cursou o primário na Escola Rural da Fazenda Engenho Prata, em São Miguel dos Campos(AL). Depois estudou no Seminário de Nossa Senhora da Assunção em Maceió. Quando se mudou para Caetité já era formado em Filosofia e nessa cidade ordenou-se padre, no dia 18 de setembro de 1932.
Em Caetité conviveu com homens ilustres como o grande educador Anísio Spinola Teixeira e o jurista Hermes Lima, que pertenceu à Academia Brasileira de Letras(ABL).
Mudou-se para Vitória da Conquista e em 1939 fundou o Ginásio de Conquista, o primeiro ginásio da cidade. Além de ser o Diretor do Ginásio, ministrava aulas de Latim e de Português.
Em 1944 fundou o Jornal “A Conquista”, exercendo o cargo de editor.
Ao fundar o Ginásio de Conquista, foi responsável pela implantação do ensino ginasial no município, que se tornou um marco importante na História da Educação de Conquista e referência regional durante muitos anos.
Foi um educador exemplar e dirigiu com eficiência e sabedoria o Ginásio de Conquista. Nunca fez protecionismo e nem exceção a nenhum aluno. O seu comportamento influenciou especialmente os jovens que se espelhavam em suas atitudes, como exemplos de coragem e de sabedoria.
A sua brilhante oratória era marcada pela habilidade que tinha com as palavras e o equilíbrio entre a poética e o humor, que encantava a todos que o escutavam.
O Jornal o Fifó publicou na sua edição de 09 de novembro de 1977, página 4, uma matéria dizendo que o “Ginásio de Conquista” foi a primeira grande luz que a cidade recebeu na educação pós-primária.
O Ginásio de Conquista teve os melhores professores da cidade e contribuiu muito para a formação cultural e educacional de muitos conquistenses, que se destacaram em várias áreas do conhecimento científico, literário e político, tornando-se pessoas ilustres na cidade, no Estado e no País.
Em 27 de outubro de 2006, foi realizado um encontro dos ex-alunos do Padre Palmeira, por iniciativa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, através do Grupo de Pesquisa Fundamentos da Educação coordenado pelos professores Ruy Medeiros e Ana Palmira Bittencourt Casimiro, no Museu Pedagógico/UESB, no antigo prédio do Ginásio do Padre.
Nesse encontro vários ex-alunos falaram e a Profª. Heleusa Figueira Câmara falou sobre as suas lembranças estudantis no período de 1955/1958 “As Reminiscências de Menina-moça e uma janela do Cotidiano do saudoso Ginásio do Padre Luiz Soares Palmeira”.
Nesse encontro, ficou a proposta da construção de um Memorial para esse Grande Educador, que merece muito essa homenagem.
A sua atuação na vida política da cidade foi muito significativa. Foi Vereador em Vitória da Conquista no período de 1951/1955.
Foi Deputado Estadual pelo Partido Social Trabalhista (PST) entre 1959/1963. Como Deputado foi responsável pela emancipação política de Anagé, Caatiba, Cândido Sales e Belo Campo.
Foi Secretário de Educação do Estado da Bahia, no Governo de Lomanto Júnior, no período de 1963/1967.
Com o Golpe de 1964, seus direitos políticos foram cassados e só foi anistiado no Governo do General João Batista Figueiredo.
Após se afastar da política, atuou como sacerdote em Salvador nas paróquias da Vitória, São Pedro e Organização Fraternal São José. Faleceu em 29 de dezembro de 1988 aos 82 anos e deixou um valioso legado.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fontes:
Revista Histórica Taberna da História – Luís Fernandes- Agosto 2013
Historia de Conquista – Crônica de uma Cidade- Mozart Tanajura, 1992
O Pedralismo um fenômeno social. Durval Lemos Menezes. Vitória da Conquista. 2012.
FOTO | Jornal Grande Bahia
HOMENAGEM A ANÍSIO SPÍNOLA TEIXEIRA
“Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra”
Anísio Spínola Teixeira nasceu no dia 12 de julho de 1900, na cidade de Caetité no alto sertão da Bahia. Filho do médico e fazendeiro Deocleciano Pires Teixeira e Anna de Souza Teixeira.
A cidade de Caetité era um centro comercial de grande importância tanto para o sertão da Bahia, como para o Norte de Minas. Os Padres Jesuítas fundaram o Instituto São Luís, onde o menino Anísio iniciou seus estudos. Depois foi estudar no Colégio Antônio Vieira em Salvador. Aos dezessete anos teve a sua inteligência reconhecida por Teodoro Sampaio, que o convidou para fazer uma palestra no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia.
Em 1922 se formou na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro.
Em 1924, o Governador Góes Calmon, o convidou para ser Inspetor Geral de Ensino na Bahia. Viajando pela Europa em 1925 observou os sistemas de ensino da Espanha, Bélgica, Itália e França.
Em 1927 foi aos Estados Unidos, onde conheceu as ideias do filósofo e pedagogo John Dewey, que muito influenciaram seu pensamento. No ano seguinte, demitiu-se do cargo porque o novo governador não concordava com suas ideias sobre mudanças no ensino.
Em 1928 voltou aos Estados Unidos e ingressou na Universidade de Colúmbia, em Nova York, onde obteve o título de Mestre pelo Teachers College.
Em 1932 casou-se com Emília Telles Ferreira e tiveram quatro filhos: Carlos Antônio, Marta, Ana Cristina e José Maurício.
De volta ao Brasil, foi nomeado Diretor de Instrução Pública do Rio de Janeiro onde criou entre 1931 e 1935 uma rede municipal de ensino que ia da escola primária à Universidade. Diversas melhorias e mudanças foram realizadas, mas a que maior polêmica causou foi a criação da Universidade do Distrito Federal em 1935.
Anísio participou em 1932, do Manifesto da Escola Nova juntamente com Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e a poetisa Cecília Meireles. O documento preconizava a universalização da escola pública, laica e gratuita.
A atuação desses pioneiros se estendeu por muitas décadas e muitas vezes foram criticados pelos defensores da escola particular e religiosa. Mas, eles ampliaram sua atuação e influenciaram uma nova geração de educadores como Darcy Ribeiro (1922-1997) e Florestan Fernandes (1920-1995).
Considerado o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a educação brasileira no século XX, foi pioneiro na implantação de escolas públicas de todos os níveis, que refletiam seu objetivo de oferecer educação gratuita para todos. Como teórico da educação, ele não se preocupava em defender apenas suas ideias. Muitas delas eram inspiradas na filosofia de John Dewey (1852-1952), de quem ele foi aluno ao fazer um curso de pós-graduação nos Estados Unidos.
Perseguido pela ditadura de Vargas, em dezembro de 1935 exonerou-se e voltou para sua terra natal, onde se tornou empresário ao lado do seu irmão Jaime Teixeira. Mas, ali foi encontrado e convocado para pensar a Educação do mundo após a 2ª. Guerra Mundial. Em 1946 assumiu o cargo de conselheiro geral da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Em 1947 foi convidado pelo recém governador Otávio Mangabeira para ocupar a Secretaria de Educação e Saúde do Estado da Bahia.
Em 1950 criou o Instituto Educacional Carneiro Ribeiro, seria consequência do modelo de escola Platoon, trazido por ele de Detroit (Estados Unidos), conhecida como Escola Parque, foi criada no Bairro da Liberdade, em Salvador, que instituía a educação integral para atender crianças pobres da região. Oferecia acesso à arte, educação física, oficinas, etc. A Escola Parque abrigava muitas crianças que não tinham onde morar, tornando possível a vivência de fato na escola.
A Escola Parque inspirou os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) no Rio de Janeiro (1980), os CIACs do Governo Collor(1990) e os CEUS paulistanos inaugurados por Marta Suplicy (2000). Influenciou instituições de ensino em tempo integral em todo o mundo, superando as fronteiras do Brasil. A Escola Parque recebeu financiamento da UNESCO.
A proposta era cuidar desde a higiene e saúde da criança até a sua preparação para a cidadania, essa escola é apontada como solução para a educação primária no livro de sua autoria “Educação não é Privilégio”. Além de integral, pública, laica e obrigatória, ela deveria ser também municipalizada, para atender aos interesses de cada comunidade. O ensino público deveria ser articulado numa rede até a universidade. Anísio propôs ainda a criação de fundos financeiros para a educação.
Em 1951, assumiu a função de Secretário Geral da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), tornando-se, no ano seguinte, diretor do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos).
A participação de Anísio à frente do INEP, valorizando a pesquisa educacional no país, chegou a ser considerada tão significativa quanto a Semana de Arte Moderna ou a fundação da Universidade de São Paulo.
Ao lado de Darcy Ribeiro foi um dos fundadores da Universidade de Brasília, da qual se tornou reitor em 1963.
Com a instauração do Governo Militar em 1964, afastou-se do cargo e foi para os Estados Unidos, lecionando nas Universidades de Colúmbia e da Califórnia. Retornou ao Brasil em 1965 e continuou como membro do Conselho Federal de Educação e se tornou consultor da Fundação Getúlio Vargas.
Anísio deixa um legado muito importante para a Educação Brasileira, foi o Educador que propôs e executou medidas para democratizar o ensino brasileiro e defendeu a experiência do aluno como base do aprendizado. Ele se preocupava com uma educação que preparasse o aluno para resolver seus próprios problemas e que estivesse em mudança permanente propiciando assim, a construção de uma Escola democrática, onde mestres e alunos devem trabalhar em liberdade, desenvolvendo a confiança mútua, e o professor deve incentivar o aluno a pensar e julgar por si mesmo.
Em relação à disciplina, Anísio afirmava “que o homem educado é aquele que sabe ir e vir com segurança, pensar com clareza, querer com firmeza e agir com tenacidade”.
Anísio defendia uma educação construtivista, que pensava os alunos como agentes transformadores da sociedade.
Suas Obras: Americanos da Educação(1928); Educação Progressiva: uma introdução à Filosofia da Educação(1934); Educação para a Democracia(1936); Em colaboração com Maurício Rocha Silva: Diálogo sobre a Lógica do Conhecimento (1968); Educação é um Direito(1968); Educação não é Privilégio(1968); Educação para o Mundo Moderno(1969) e Ensino Superior no Brasil (1989, obra póstuma).
O grande Escritor Jorge Amado disse no seu Artigo “Mestre Anísio”. Foi o mais modesto dos grandes homens, o mais simples e que menos desejou para si próprio. O mais ambicioso, porém, em relação ao Brasil e ao homem brasileiro. Ninguém como ele tão capaz de acreditar e confiar nos demais, de ver e revelar as qualidades de cada um e de valorizá-las, de conseguir estabelecer a confiança e descobrir valores.
Para Darcy Ribeiro, Anísio foi o educador mais brilhante do Brasil. Foi também, o homem mais inteligente e cintilante que conheci.
Anísio Spínola Teixeira foi incansável na sua luta por uma educação diferenciada e emancipatória. Figura entre os principais pensadores brasileiros das Ciências Humanas. A grandeza de sua vida e obra deve ser motivo de orgulho para todos os brasileiros e brasileiras.
O Projeto de Lei 23.931/2020 tornou o Educador Anísio Spínola Teixeira, o Patrono da Educação da Bahia.
Anísio Teixeira faleceu em 11 de março de 1971, no Rio de Janeiro, em circunstâncias suspeitas, e o seu corpo foi achado no fosso de um elevador onde morava na Avenida Rui Barbosa.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fontes:
Revista Histórica Taberna da História – Agosto 2013 págs. 12 e 13
Revista Nova Escola Edição Especial- Julho 2008 págs. 95,96 e 97
FOTO | Blog do Anderson
HOMENAGEM A ITAMAR PEREIRA AGUIAR
Mestre da Educação e Filósofo do Sertão
Em 25 de julho de 1950 nasceu o menino Itamar na cidade de Iraquara-Bahia, localizada na Chapada Diamantina. Filho de Antônio Braga de Aguiar e Alda Pereira de Aguiar. Iniciou seus estudos na sua cidade natal. Em 1964 foi estudar em Lençóis - BA, onde cursou a quinta série do curso primário e depois fez o exame de admissão para ingressar no ginásio.
Em 1965 ingressou na primeira série ginasial no Colégio Municipal Afrânio Peixoto, onde a maioria dos seus professores foram formados na Escola de Formação de Professores Rurais do Instituto Ponte Nova, fundado no início do século XX e mantido por uma missão da Igreja Presbiteriana. Em 1969 concluiu o Curso Ginasial e ingressou na Escola Normal do Colégio Municipal de Lençóis.
Em 1970 foi morar em São Paulo e lá estudou no Colégio Infante Dom Henrique, na Vila Matilde e não concluiu o ano de estudos porque foi trabalhar numa atividade empresarial. Em 1971 volta para Lençóis e retoma os estudos na Escola Normal, concluindo o curso em 1973.
Exerceu o cargo de Diretor do Colégio Municipal de Lençóis, com apenas 24 anos de idade, no período de 1974 a 1979. Cursou a graduação em Filosofia na Universidade Federal da Bahia(UFBA). Após a conclusão do curso e o afastamento da direção do Colégio Municipal de Lençóis em 1979, foi durante alguns meses diretor do Colégio Municipal Manoel Teixeira Leite, no município de Iraquara, parcialmente em 1979 e 1980.
Casou-se com Maria do Socorro Almeida Aguiar em 27 de outubro de 1979 e tiveram dois filhos: Leandro Almeida de Aguiar e Alexandre Almeida de Aguiar.
Ingressou na Faculdade de Formação de Professores de Vitória da Conquista em 16 de março de 1983, após a seleção pública. Em dezembro de 1984, foi eleito para compor a Direção da Associação de Docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia(ADUSB), ocupando o cargo de Secretário Geral até dezembro de 1988.
Itamar é professor titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, com dedicação exclusiva e atua nas áreas de Filosofia e Antropologia, desenvolvendo os temas: filosofia, imagem, imaginário, educação, cinema, religião e cultura de resistência.
Mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC (1997-1999), sua dissertação com o Tema: As Religiões Afro-Brasileiras em Vitória da Conquista: caminhos da diversidade, defendida em 17 de setembro de 1999. Foi orientado pela Profª. Dra. Josildeth Gomes Consorte.
Doutorado em Ciências Sociais pela mesma Universidade (2003-2007), sua tese com o Tema: Do Púpito ao Baquiço: Religiões e Laços Familiares na Trama da Ocupação do Sertão da Ressaca, defendida em 17 de outubro de 2007. Foi orientado pela Profª. Dra. Josildeth Gomes Consorte.
Pós-Doutorado (2013-2014) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP(SP). Título do seu trabalho: Antropologia da Religião.
O Prof. Itamar contribuiu com sua luta incansável para a criação dos Cursos de Cinema e de Filosofia da UESB, teve uma atuação expressiva no Projeto do Museu Pedagógico da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, participando das pesquisas e dos colóquios.
Ministrando aulas nos diversos cursos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia é sempre muito elogiado, porque mantém o diálogo com os seus alunos e respeita a capacidade de cada um, no processo de aprendizagem, sendo considerado por todos como um Mestre competente, ético e dedicado ao bem estar coletivo.
Em 1986 quando eu ingressei no Curso de Letras na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, tive a oportunidade de ser sua aluna na Disciplina Introdução à Filosofia e a sua maneira de ministrar as aulas, me levou a gostar de Filosofia e guardo as melhores lembranças desse período, porque o Mestre Itamar, sempre nos incentivou a olhar para frente e não desistir dos nossos sonhos e acreditar na força que a educação tem para transformar o mundo.
O seu primeiro Artigo foi “JARÊ: Instalações Africanas na Chapada Diamantina” com a participação do Professor Dr. Ronaldo Senna, na década de 70.
Escreveu vários artigos científicos, livros e capítulos de livros com outros autores, como por exemplo Remanso, uma Comunidade Mágico Religiosa com Dr. Ronaldo Senna, pela Editora UEFS; Filosofia, Cinema e Educação com o Prof. Dr. Jorge Miranda; Lugares e Sujeitos da Pesquisa em História, Educação e Cultura organizado pelas professoras Lívia Diana Rocha Magalhães, Ana Elizabeth Santos Alves e Ana Palmira Bittencourt Santos Casimiro; Memória e Trajetória de Pesquisa organizado pelas professoras Lívia Diana Rocha Nascimento e Ana Palmira Bittencourt Santos Casimiro.
Itamar, o Filósofo do Sertão expressa o pensamento autêntico na voz firme que apresenta a narrativa de abertura do filme documentário “Contra o Veneno Peçonhento do Cão Danado”, do cineasta Marcelo Lopes, onde revela os segredos das balas que mataram Lampião e Horácio de Matos.
O seu nome foi indicado para receber o título de Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social João Mangabeira pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia(ALBA). A proposta foi uma iniciativa do Deputado Estadual Jean Fabrício Falcão e a entrega do título será feita por meio de uma Sessão Especial na ALBA. Esse título reconhece brasileiros dedicados às causas nobres, humanas e sociais que tenham resultado no desenvolvimento político, educacional e socioeconômico do Brasil, melhorando a vida das pessoas.
O Prof. Itamar é reconhecidamente uma referência como mestre e dotado de um conhecimento muito valioso, especialmente na área da diversidade religiosa e permanece contribuindo para a formação de novas gerações, porque acredita que o conhecimento deve ser compartilhado e que a diversidade deve ser respeitada sempre.
O memorial HFC o parabeniza pelo seu aniversário e por sua trajetória de vida em defesa da educação pública, democrática e de qualidade.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
HOMENAGEM A PROFESSORA HELENA CRISTÁLIA FERREIRA
Helena Cristália Ferreira nasceu em Vitória da Conquista no dia 29 de agosto de 1910. Seu pai Nicanor José Ferreira, foi o segundo médico de Conquista.
Iniciou seus estudos com a professora Emília Carvalhal Ferreira e depois foi aluna do ilustre professor Euclydes Dantas. Fez o bacharelado em Ciências e Letras, no Colégio Carneiro Ribeiro, na cidade de Salvador - BA.
A partir do dia 06 de março de 1931, fundou a Escola São José e iniciou a dar aulas e dirigir a Escola, que ficava localizada na Rua das Flores, atualmente Rua Góes Calmon, que recebeu vários alunos da elite social de Conquista, daquela época.
Em 14 de julho 1945, foi inaugurado na Escola São José, o ensino noturno gratuito, promovido pela ação católica feminina da cidade, com o objetivo de propiciar a educação para uma turma masculina.
A turma feminina era atendida pela Escola da professora Jesuína Torres, que ficava na Rua Coronel Gugé. A Professora Jesuína, era chamada carinhosamente de “Zu Torres” (que teve como aluno, o grande cineasta Glauber Rocha, num momento mais adiante).
Portanto, à noite estudavam gratuitamente, as pessoas mais pobres.
A Professora Helena Cristália Ferreira foi professora de Uady Barbosa Bulos, Lia Rocha, Walter Barros, Eduardo Saldanha, Aderbal Pereira, Alberto Rosa, Antônio Roberto Costa e Silva, Raul Pithon, Hélio Correia Figueiredo, Djalma Silva e Fernando Nascimento.
A Professora Helena Cristália dedicou a sua vida pela educação e a sua contribuição para a educação conquistense foi muito marcante.
A Escola Municipal Helena Cristália Ferreira, localizada na Rua Paulo Rocha, 07, na URBIS VI, no Bairro Espirito Santo, em Vitória da Conquista, foi construída em sua homenagem.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fonte:
Revista Histórica Taberna da História – História da Educação em Conquista. Agosto.2013 – Autor Luís Fernandes.
HOMENAGEM A PAULO FREIRE
Mestre da Educação e Filósofo do Sertão
Em 25 de julho de 1950 nasceu o menino Itamar na cidade de Iraquara-Bahia, localizada na Chapada Diamantina. Filho de Antônio Braga de Aguiar e Alda Pereira de Aguiar. Iniciou seus estudos na sua cidade natal. Em 1964 foi estudar em Lençóis - BA, onde cursou a quinta série do curso primário e depois fez o exame de admissão para ingressar no ginásio.
Em 1965 ingressou na primeira série ginasial no Colégio Municipal Afrânio Peixoto, onde a maioria dos seus professores foram formados na Escola de Formação de Professores Rurais do Instituto Ponte Nova, fundado no início do século XX e mantido por uma missão da Igreja Presbiteriana. Em 1969 concluiu o Curso Ginasial e ingressou na Escola Normal do Colégio Municipal de Lençóis.
Em 1970 foi morar em São Paulo e lá estudou no Colégio Infante Dom Henrique, na Vila Matilde e não concluiu o ano de estudos porque foi trabalhar numa atividade empresarial. Em 1971 volta para Lençóis e retoma os estudos na Escola Normal, concluindo o curso em 1973.
Exerceu o cargo de Diretor do Colégio Municipal de Lençóis, com apenas 24 anos de idade, no período de 1974 a 1979. Cursou a graduação em Filosofia na Universidade Federal da Bahia(UFBA). Após a conclusão do curso e o afastamento da direção do Colégio Municipal de Lençóis em 1979, foi durante alguns meses diretor do Colégio Municipal Manoel Teixeira Leite, no município de Iraquara, parcialmente em 1979 e 1980.
Casou-se com Maria do Socorro Almeida Aguiar em 27 de outubro de 1979 e tiveram dois filhos: Leandro Almeida de Aguiar e Alexandre Almeida de Aguiar.
Ingressou na Faculdade de Formação de Professores de Vitória da Conquista em 16 de março de 1983, após a seleção pública. Em dezembro de 1984, foi eleito para compor a Direção da Associação de Docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia(ADUSB), ocupando o cargo de Secretário Geral até dezembro de 1988.
Itamar é professor titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, com dedicação exclusiva e atua nas áreas de Filosofia e Antropologia, desenvolvendo os temas: filosofia, imagem, imaginário, educação, cinema, religião e cultura de resistência.
Mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC (1997-1999), sua dissertação com o Tema: As Religiões Afro-Brasileiras em Vitória da Conquista: caminhos da diversidade, defendida em 17 de setembro de 1999. Foi orientado pela Profª. Dra. Josildeth Gomes Consorte.
Doutorado em Ciências Sociais pela mesma Universidade (2003-2007), sua tese com o Tema: Do Púpito ao Baquiço: Religiões e Laços Familiares na Trama da Ocupação do Sertão da Ressaca, defendida em 17 de outubro de 2007. Foi orientado pela Profª. Dra. Josildeth Gomes Consorte.
Pós-Doutorado(2013-2014) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP(SP). Título do seu trabalho: Antropologia da Religião.
O Prof. Itamar contribuiu com sua luta incansável para a criação dos Cursos de Cinema e de Filosofia da UESB, teve uma atuação expressiva no Projeto do Museu Pedagógico da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, participando das pesquisas e dos colóquios.
Ministrando aulas nos diversos cursos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia é sempre muito elogiado, porque mantém o diálogo com os seus alunos e respeita a capacidade de cada um, no processo de aprendizagem, sendo considerado por todos como um Mestre competente, ético e dedicado ao bem estar coletivo.
Em 1986 quando eu ingressei no Curso de Letras na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, tive a oportunidade de ser sua aluna na Disciplina Introdução à Filosofia e a sua maneira de ministrar as aulas, me levou a gostar de Filosofia e guardo as melhores lembranças desse período, porque o Mestre Itamar, sempre nos incentivou a olhar para frente e não desistir dos nossos sonhos e acreditar na força que a educação tem para transformar o mundo.
O seu primeiro Artigo foi “JARÊ: Instalações Africanas na Chapada Diamantina” com a participação do Professor Dr. Ronaldo Senna, na década de 70.
Escreveu vários artigos científicos, livros e capítulos de livros com outros autores, como por exemplo Remanso, uma Comunidade Mágico Religiosa com Dr. Ronaldo Senna, pela Editora UEFS; Filosofia, Cinema e Educação com o Prof. Dr. Jorge Miranda; Lugares e Sujeitos da Pesquisa em História, Educação e Cultura organizado pelas professoras Lívia Diana Rocha Magalhães, Ana Elizabeth Santos Alves e Ana Palmira Bittencourt Santos Casimiro; Memória e Trajetória de Pesquisa organizado pelas professoras Lívia Diana Rocha Nascimento e Ana Palmira Bittencourt Santos Casimiro.
Itamar, o Filósofo do Sertão expressa o pensamento autêntico na voz firme que apresenta a narrativa de abertura do filme documentário “Contra o Veneno Peçonhento do Cão Danado”, do cineasta Marcelo Lopes, onde revela os segredos das balas que mataram Lampião e Horácio de Matos.
O seu nome foi indicado para receber o título de Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social João Mangabeira pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia(ALBA). A proposta foi uma iniciativa do Deputado Estadual Jean Fabrício Falcão e a entrega do título será feita por meio de uma Sessão Especial na ALBA. Esse título reconhece brasileiros dedicados às causas nobres, humanas e sociais que tenham resultado no desenvolvimento político, educacional e socioeconômico do Brasil, melhorando a vida das pessoas.
O Prof. Itamar é reconhecidamente uma referência como mestre e dotado de um conhecimento muito valioso, especialmente na área da diversidade religiosa e permanece contribuindo para a formação de novas gerações, porque acredita que o conhecimento deve ser compartilhado e que a diversidade deve ser respeitada sempre.
O memorial HFC o parabeniza pelo seu aniversário e por sua trajetória de vida em defesa da educação pública, democrática e de qualidade.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
HOMENAGEM A EUCLIDES ABELARDO DE SOUZA DANTAS
Euclides Abelardo de Souza Dantas, conhecido carinhosamente como Professor “Tidinho”, nasceu em Salvador, na Bahia, na antiga Rua do Tingui, no dia 3 de outubro de 1888. Era filho de Leandro Alexandrino de Souza Dantas e D. Epifânia de Oliveira Dantas.
Chegou em Vitória da Conquista em 1909, aos vinte e um anos, onde seus irmãos José de Souza Dantas (Bacharel em Direito) e Lydia de Souza Dantas (Professora), já moravam.
Ele começou a trabalhar como professor na fazenda Ouriçanga do Cel. Virgílio Ferraz de Oliveira, onde abriu uma escola com o nome de Colégio Cabral.
Casou-se com uma parenta do fazendeiro, Virgínia Lopes Ferraz e não tiveram filhos.
Da fazenda, depois de casado, veio morar em Vitória da Conquista tornando-se redator do primeiro jornal editado nessa cidade “A Conquista”, que foi fundado por Hormindo Cunha e pelo Dr. José de Souza Dantas, seu irmão.
Euclides Dantas não tinha diploma porque abandonou os estudos, entretanto, tinha grande preparo. Era muito inteligente e adquiriu sólida cultura, tornando-se um homem de valor intelectual e grande mestre, que não restam dúvidas, concorreu para o progresso da instrução de Conquista.
Fundou o Colégio Brasil, modernizando a forma do ensino particular. Foi diretor do Colégio Marcelino Mendes. Fundou depois o Educandário Sertanejo que funcionou durante alguns anos onde posteriormente funcionaria o Colégio Padre Palmeira. O colégio foi construído no início da década de 1920 por inciativa da Igreja Católica Nossa Senhora das Vitórias e abrigou a escola municipal e o Educandário Sertanejo do poeta Euclides Dantas, segundo o professor Dr. Ruy Medeiros.
Ele atuou nos espaços culturais e foi um dos fundadores do Grêmio Lítero Dramático Conquistense (1911), do Grêmio Dramático Castro Alves (1919) e da Ala das Letras (1938), juntamente com Camillo de Jesus de Lima, Laudionor Brasil, Newton Lima, Bruno Bacelar, Erathósthenes Menezes e outros. Era um espaço para o encontro dos letrados conquistenses, que muito o respeitavam. Foi um dos fundadores e colaboradores da Revista “Ribalta”.
Como escritor produziu entre outras obras, “Terras”, romance regional que narra a “Tragédia do Tamanduá”, fato que ocorreu em Belo Campo (que era distrito de Conquista), no fim do século XIX, cujo livro foi prefaciado por Camillo de Jesus Lima. Escreveu peças teatrais como sejam “Ad-Lucem” que foi encenada com grande êxito e aplausos na noite de 7 de Setembro de 1922 em comemoração ao Centenário da Independência, sendo interpretada pelos alunos de várias escolas. Ave Pátria, In Excelsis; Casa Tua Filha com o Filho do Teu Vizinho (Comédia); O Eleito das Fadas; Ele e Ela. Esses livros manuscritos, ficaram com a sua esposa. Escreveu também um livro de poemas “Árvores Mortas” e um livrete “Perfil Biográfico do Dr. Régis Pacheco”, que foi publicado em 1940 e impresso na gráfica do jornal “O Combate”.
Foi o professor Tidinho quem escreveu o belíssimo “Hino de Conquista”, que foi musicado pelo excelente Maestro Francisco Antônio Vasconcelos.
O ilustre mestre, após a Grande Guerra de 1914/1918, escreveu um A. B.C., apreciado naquele tempo, e que foi amplamente cantado pelos violeiros da região do Sertão da Ressaca, demonstrando que era também um poeta da Literatura de Cordel.
Segundo Heleusa Figueira Câmara, ele foi romancista, poeta, jornalista, professor, teatrólogo, compositor, orador, rábula, biógrafo, deixou a sua presença marcada em diversas áreas do saber. “O maior encanto disso tudo é o que nos leva a sentir, que todos nós somos capazes de diversos fazeres, e que é de nós mesmos que vem a força necessária, pois todo o labor de Euclides Dantas na educação e na cultura brotou de um autodidata”.
De acordo com Aníbal Lopes Viana e Mozart Tanajura, Euclides Dantas, durante toda a sua trajetória como professor, ministrava aulas particulares em sua residência para crianças de famílias tradicionais da cidade, como também para alunos das camadas menos abastadas, os quais não tinham dinheiro para realizar o pagamento.
O Professor Tidinho era um fluente orador cujo verbo empolgava multidões. A sua oratória era surpreendente, razão porque era convidado para orador oficial das festas cívicas.
O Professor Euclides tinha muita cultura jurídica e por algumas vezes foi defensor de réus que não tinham advogados por causa da indigência, e que foram levados à júri. O professor Tidinho adquiriu o carinho e o respeito da camada mais pobre da cidade.
Apesar de ter sido sempre referenciado na cidade e mencionado como um bom professor pelos jornais da época, ele faleceu em Salvador em 1943, pobre e cego, depois de ter passado por necessidades financeiras. Ele continua se deixando ver no hino de nossa terra e em algumas obras que deixou escritas.
A Escola Normal foi inaugurada em 20/03/1952 pelo Governador Régis Pacheco e pelo Prefeito Gerson Sales, mas em 20/12/1952, foi mudado o nome para Instituto de Educação Euclides Dantas, em homenagem póstuma ao Educador Euclides Dantas, pioneiro das Escolas de Conquista. O Decreto de autorização do funcionamento do Instituto de Educação Euclides Dantas foi assinado em 11/11/1957. Até os dias atuais, a comunidade ainda se refere ao Instituto como “Escola Normal”.
O Memorial HFC homenageia o Professor Euclides Abelardo de Souza Dantas reconhecendo o seu trabalho na área da educação e da cultura conquistense e lamenta muito que a sua casa, onde funcionou a sua escola e acolheu muitos alunos durante vários anos, tenha sido derrubada, desaparecendo assim um patrimônio importante de nossa cidade.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fontes:
Revista Histórica de Conquista. Volume 2. Autor Aníbal Lopes Viana
Revista Histórica- Taberna da História. História da Educação em Conquista. Agosto 2013. Autor Luís Fernandes
Texto Entre lembranças, notas e acordes ao Hino à Conquista. Autora – Heleusa Figueira Camara
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Euclides Dantas, poeta e epigramista ferino, certa vez, em palestra na redação de “ O Combate” com os habituais companheiros Camillo de Jesus Lima, Erathósthenes Menezes, Ivo Moreira e Bruno Bacelar, a pedido do grupo que “cortava” os maiorais da política e seus aduladores, “escreveu na perna” este soneto satírico, dedicado aos bajuladores dos chefes políticos e que são autênticos madrinheiros.
O MADRINHEIRO
Em frente a tropa, segue, sobranceiro,
Ostentando vistosa cabeçada
Cheia de guisos, toda ornamentada,
O mais belo do lote: o madrinheiro.
As demais alimárias, do guieiro
Obedecem, a marcha compassada;
Grave, marcando o rumo da jornada,
Tem aspecto de nobre mensageiro...
Entretanto, conduz também a carga,
Dois volumes pesados, igualmente,
Que o destino do burro não larga...
Quantos que a gente, pelo mundo, topa.
São no orgulho risível e inconsciente
Madrinheiros legítimos de tropa!
HOMENAGEM A UBALDINO GUSMÃO FIGUEIRA
Nasceu em Vitória da Conquista, na Bahia, no dia 04 de outubro de 1907. Filho de Virgílio Manuel Figueira e Maria Gusmão Figueira.
Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1932. Foi o primeiro médico a abrir um hospital particular na cidade de Patos de Minas, em Minas Gerais, a Casa de Saúde Miguel Couto, que ficava localizada na esquina entre a rua Major Gote e a Rua José Santana.
Foi um médico muito competente e dentre os seus feitos na área da medicina, destaca-se a AUTO CIRURGIA DE APÊNDICE (apendicectomia), realizada em 05 de fevereiro de 1942, na cidade de Patos, em Minas Gerais, aproveitando uma viagem de sua esposa, Maria Stella, para visitar os pais, porque ele sabia que ela não concordaria com essa auto cirurgia.
O Dr. Ubaldino marcou o dia e convidou alguns amigos, mas não falou quem seria operado.
Compareceram Cristiano José de Fonseca (farmacêutico), João Pacheco Filho (guarda-livros) e Jorge Neto (fotógrafo). Esses amigos mais íntimos só vieram a saber que se tratava de uma apendicectomia a que ia se submeter o Dr. Ubaldino, por suas próprias mãos, quando entraram na sala de cirurgia e foram surpreendidos pelo cirurgião que tomava posição sobre a mesa de operação.
Nesse momento, os presentes sugeriram que o fotógrafo batesse algumas chapas, durante as várias etapas da cirurgia. Feita a anestesia, após a preparação do campo operatório, todas as etapas transcorreram normalmente.
No sexto dia após a operação o Dr. Ubaldino passeou pela cidade. No dia seguinte foi ao cinema e no oitavo dia, pela manhã, operou um paciente e à noite foi à uma festa.
Na ocasião, esse fato foi noticiado pela Imprensa Brasileira e até na BBC de Londres, na Inglaterra, como sendo o segundo caso de auto cirurgia no mundo, porque até então, só tinham conhecimento de uma praticada pelo Prof. Karl Bier, de Berlim.
Casou-se em 05 de junho de 1934, com Maria Stella de Moraes e tiveram cinco filhas: Helena e Heloisa (gêmeas) e Heliane nasceram em Minas Gerais e Heleusa e Edilce, em Vitória do Cantir Cristão Cantor Conquista.
Em 1943 a família veio morar em Vitória da Conquista e o Dr. Ubaldino fundou o hospital Casa de Saúde Dr. Ubaldino, na Rua São Vicente, atualmente Rua Coronel Gugé, que ficava na esquina da Travessa Elpídio Flores e fazia fundo com a Rua Sinhazinha Santos, onde ele atendia os seus pacientes e realizava muitas operações. Existem alguns relatos que falam sobre como ele gostava de cantar e tinha uma voz maravilhosa e enquanto operava as pessoas, cantava os hinos do Cantor Cristão.
Era protestante, membro fundador da 2ª Igreja Batista de Vitória da Conquista, médico, poeta, orador e garimpeiro. Escreveu vários ensaios sobre política e saúde pública.
Segundo sua filha Heleusa Figueira Câmara:
"Cada filha pode contar uma história diferente, mas Ubaldino, meu pai, era um homem que amava a sua família e a sua terra. Ubaldino era um brasileiro autêntico e todos os seus traços revelavam a miscigenação do nosso povo, moreno claro, cabelos pretos, crespos (de escadinha, segundo mamãe), olhos esverdeados, estatura mediana, esbelto. Seu sorriso mostrava dentes bonitos e fortes e sua voz, emocionada, ecoa em minhas lembranças nas canções Porta Aberta, Adios Pampa Miá, e nos hinos do Cantor Cristão.
Ubaldino era dotado de uma inteligência excepcional. Protestante batista, servo fiel à doutrina escolhida. A fé viva que tinha em Deus, o sustentou em toda a sua vida. Aventureiro, sonhador, garimpeiro não sabia que as esmeraldas que ele procurou a vida toda, estavam em sua alma, pois sempre sentiu a vida como uma bênção, uma dádiva.
Ubaldino partiu no dia 14 de novembro de 1969, em São Paulo e está sepultado no Cemitério do Shangrilá, no distrito de Capinal.
Eu tinha vinte e cinco anos, quando meu pai morreu e até hoje, aos 70 anos, sinto o gosto de saudade das bênçãos que ele me desejava. Em todas as cartas que escreveu às suas filhas costumava usar como epígrafe a benção contida em seu versículo bíblico predileto que, ainda, me confere a alegria da positividade sugerida.
Abençoar é um verbo transitivo que, dentre as suas acepções, significa proteger, fazer feliz, tornar próspero. O seu desejo era que a luminosidade divina resplandecesse em nossa face, como crença na potência existente em todo ser humano, de merecer a vida e poder usufruí-la em abundância e qualidade.
O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e se compadeça de ti; o Senhor volva sobre ti o seu rosto e te dê a paz. Números; Cap.: 6 Vers.: 24,25,26."
O Memorial HFC, em sua homenagem aos 114 anos do nascimento do médico conquistense Ubaldino Gusmão Figueira, reforça as palavras da Profª Heleusa Figueira Câmara:
“É muito importante que os espaços acadêmicos cuidem dos acervos memorialísticos. O Curso de Medicina da UESB poderia organizar um espaço museal com documentos de pessoas que exerceram a medicina nesta cidade e que se encontram em arquivos particulares, apartados, portanto do acesso às pesquisas. É preciso destacar a iniciativa do escritor pesquisador Dr. Francisco Paulo Ribeiro Rocha que escreveu Um século de medicina em Conquista.”
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fonte:
Texto de Heleusa Figueira Câmara. Fevereiro de 2013, publicado no Blog do ProlerVC
HOMENAGEM A EDIVANDA MARIA TEIXEIRA
“A vida é esse caminhar. É esse crescer, é esse dar, é esse aprender. E só conseguimos ir pra frente caminhando com os outros”. (Edivanda)
Edivanda Maria Teixeira nasceu em 05 de outubro de 1943. Era filha de Wanderlei de Matos Teixeira e D. Guiomar de Souza Teixeira.
Edivanda viveu serenamente a sua infância e adolescência, entre a família e a escola.
Segundo depoimento de sua irmã Rita Teixeira, ainda estudante de ginásio, Edivanda fez amizade com as freiras do Colégio Sacramentinas. Ela observando a vida das religiosas, mostrou-se interessada em se dedicar à vida monástica. Amadureceu a ideia e, numa noite, expôs a nosso pai o seu desejo, que não foi atendido. Nossos pais eram muito apegados aos seus filhos e não aceitaram aquela ideia. Lembro-me bem das palavras de nosso pai: “Para servir a Deus não precisamos nos enclausurar; o mundo aqui precisa muito mais da nossa fé”. Silenciosamente ela soube aceitar a decisão de nosso pai. Nós dormíamos no mesmo quarto, e à noite ela chorou com sentimento. Realmente as palavras de nosso pai foram sábias; o mundo esperava e precisava do testemunho vivo, da dedicação e, sobretudo, da coragem de Edivanda.
Formou-se em professora em 1962, aos dezenove anos de idade e desde cedo se engajou no trabalho de alfabetização do MEB (Movimento de Educação de Base.
O MEB era um movimento de educação popular, ligado à CNBB, com decreto de criação assinado pelo Presidente da República em 1961. Fizeram parte desse projeto militantes da Ação Católica e outros grupos de universitários, geralmente escolhidos pelos bispos, párocos ou pessoas engajadas na Igreja.
Em Vitória da Conquista chegou mais tarde em 1962, sob a responsabilidade e a orientação das professoras Edivanda Maria Teixeira e Zildete Guimarães.
As professoras Edivanda e Zildete passaram a utilizar o método de alfabetização Paulo Freire (para a alfabetização de adultos), atuando na região interiorana de Vitória da Conquista, junto às pessoas mais simples. Seu trabalho não durou muito tempo no MEB, porque ele não sobreviveu à intolerância da época.
“Sua vida era dedicada à conscientização das pessoas. Ela assumia plenamente que seu papel era o de educar para a liberdade e para a busca de justiça social. Isso a tornou próxima de pessoas que não possuíam compromisso de luta a partir de convicções religiosas, mas determinado por outras motivações”, comenta o advogado e professor Ruy Medeiros.
Conforme consta no livro organizado pelo Padre Luís Mosconi, “Edivanda – uma vida de fé e muitas lutas, publicado em 2003, em 1969, Edivanda ajudou a organizar as Comunidades Eclesiais de Base (CEB), na casa do aguadeiro Geraldo, no bairro Pedrinhas. Nascia ali a primeira CEBs de Vitória da Conquista.
De início, o trabalho de educação se mobilizava em torno de coisas simples- campanha do filtro, da fossa, da limpeza. Mas, aos poucos, foi crescendo: reivindicações de escola, professores, abastecimento d’água etc.
A luta das CEBs crescia e o trabalho se avolumava para os padres Luís, Virgílio, Pedro, Afonso, João e José e para Edivanda. Não só as demandas aumentavam como as comunidades cresciam em número. Na zona rural elas se multiplicavam e novas reivindicações próprias dos moradores do campo passaram a ocorrer. “Não se tratava mais de apenas lutas urbanas. Novas demandas surgiram: luta por escola, por preço mínimo de produtos, por aguadas, por assistência médica, por cumprimento de leis trabalhista, por aposentadoria etc”, complementa Ruy Medeiros.
A professora Edivanda era moradora da Av. Otávio Santos e frequentava a Igreja das Graças e era a principal agente dentro das Comunidades Eclesiais. Desdobrava-se para acompanhar o trabalho de todas. Em 1976, já existiam mais de 22 CEBs. O trabalho foi evoluindo para a discussão política, no sentido amplo.
“Com o avanço da organização em 1978 já havia mais de 33 CEBs, outros problemas surgiram: passou-se a debater a situação dos bóias frias e, desde1975, envolveu-se na luta em favor dos posseiros da Fazenda Pau Brasil, em Barra do Choça, que se debatiam pela posse da terra”, finaliza Ruy.
No domingo 12 de novembro de 1978, encerrava-se ao meio dia, no Seminário Diocesano, mais um encontro de animadores de comunidades. Ninguém imaginava que seria o último encontro de Edivanda. À tarde, Edivanda e um grupo de participantes foram para assistir a celebração de uma missa na localidade Pau Brasil, uma área de conflito de terra. Na viagem de volta, Edivanda sentiu-se mal de repente e logo foi hospitalizada e no dia 16 teve alta. Mas no dia 20 de novembro de 1978 sofreu um novo ataque cardíaco e faleceu, aos 35 anos de idade.
Em 1999 foi inaugurada a Escola Municipal Edivanda Maria Teixeira em sua homenagem, na gestão do Prefeito Guilherme Menezes, com Heleusa Câmara como Secretária Municipal de Educação e Cultura.
Em 2003, foi publicado o Livro “EDIVANDA - UMA VIDA DE FÉ E DE MUITAS LUTAS”, organizado pelo Padre Luís Mosconi que dá visibilidade a biografia dessa professora que desenvolveu um trabalho muito importante na área da educação e na luta pelos direitos humanos.
Segundo o Padre Luís Mosconi “Edivanda é um dos mortos que não morrem. Sua vida continua sendo referência, um exemplo. Ela se tornou um patrimônio precioso, animador, esperançoso para aqueles que sonham que outro mundo é possível e que lutam para o sonho acontecer”.
“Para viver como Edivanda viveu é preciso ter liberdade interior, coragem de abrir caminhos novos, desenvolver o senso de solidariedade”.
O Memorial HFC homenageia a Professora Edivanda Maria Teixeira pelo seu legado e recomenda a leitura da sua biografia afirmando que a sua memória jamais deverá ser esquecida.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fontes:
Luís Mosconi (ORG). Edivanda uma vida de fé e muitas lutas. 2003.
Revista Histórica. Taberna da História. História da Educação em Conquista. Luís Fernandes. Agosto.2013
HOMENAGEM A ABDIAS MENEZES
Abdias Menezes nasceu no dia 18 de outubro de 1873, na cidade de Euclides da Cunha, na Bahia. Era filho de Pedro Evangelista de Menezes e de D. Josefa da Silva Menezes.
Em 1900 foi para Ilhéus, na Bahia, interessado no progresso do sul da Bahia pelo advento do cacau, a convite de parentes, onde tentou ser comerciante, mas logo deixou essa profissão e ingressou no Magistério, ocupando por dois anos, a regência de uma cadeira na Vila de Aritaguá e por mais dois na Vila de Olivença.
Em 1905, foi para Salvador e dali foi para a cidade de Jequié, na Bahia, onde foi auxiliar de redação de um jornal de propriedade de João Bastos. Atraído pelo desenvolvimento da grande exploração de diamantes na Chapada Diamantina, passou a morar em Lençóis, onde começou a exercer o magistério.
No ano de 1906, foi convidado pelo inglês Júlio Frank, que foi agricultor e incentivador da cultura de mandioca neste município, para dar aulas a seus filhos, na Fazenda denominada Coquinhos.
Em 1907, foi nomeado professor municipal do arraial Lajes do Gavião, lugar que se limitava com Brumado e Conquista. Casou-se com Brasilina Machado, com quem teve seu primeiro filho, Erathósthenes Menezes.
Em 1912, foi nomeado professor municipal de Gameleira dos Machados, hoje Aracatu, na Bahia, cargo que exerceu até 1916.
Em 1917, mudou-se para Vitória da Conquista, fixando residência na Vila de Angicos, hoje Distrito de Iguá. Em Iguá nasceram seus outros filhos: Prascóvia, Izabel, Cordélia e Dante. Em Iguá ele fundou o Colégio Vitória (estabelecimento de ensino internato e externato) que foi registrado naquela ocasião, na Secretaria do Interior, Justiça e Educação Pública da Bahia, o qual foi mantido até o ano de 1932. Ele ensinou centenas de jovens do município e dos municípios vizinhos. Foi auxiliado por seu filho, o poeta Erathósthenes Menezes.
Exerceu o magistério por mais de vinte anos, prestando um trabalho relevante na área da educação a várias gerações. Entre muitos alunos que teve, vale destacar Altamirando Novais e Orlando da Silva Leite, que foi Prefeito de Vitória da Conquista no período de 1964 a 1967.
O Professor Abdias Menezes sempre valorizou a educação como uma oportunidade de transformação na vida das pessoas e passou esse ensinamento para os seus descendentes. Tanto o seu filho Erathósthenes Menezes, quanto o seu neto Durval Lemos Menezes seguiram a profissão de professor e contribuíram de forma expressiva para a educação de Vitória da Conquista e da Zona Rural.
Abdias Menezes faleceu em 16 de julho de 1948, aos 75 anos de idade no distrito de Iguá, onde está sepultado.
Em 08 de fevereiro de 1977 foi inaugurado o Complexo Escolar Abdias Menezes, situado na Avenida Rosa Cruz, no Bairro Candeias, criado
inicialmente como “Ginásio Orientado para o Trabalho” (GOT), para atender a política educacional da época, que era voltada para uma educação pragmática e profissionalizante, necessária para atender a modernização da produção nacional brasileira. Mas em 05 de setembro de 1985 foi transformado em Colégio Estadual Abdias Menezes e permanece até hoje fazendo o seu papel de educar as novas gerações.
A Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista prestou uma merecida homenagem ao professor Abdias Menezes, colocando o seu nome numa praça, no bairro Brasil.
O Memorial HFC sente-se honrado em homenagear o professor Abdias Menezes pelo relevante trabalho na área educacional ao povo conquistense.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fontes:
Revista Histórica Taberna da História. História da Educação em Conquista. Agosto/2013.Autoria de Luís Fernandes.
Revista Histórica de Conquista. Vol. 2. Autoria Aníbal Lopes Viana.
HOMENAGEM A MARIA ANITA SANTOS MELO
(Primeira professora de Datilografia da cidade de Vitória da Conquista)
Maria Anita Santos Melo nasceu em 26 de outubro de 1913. Filha de Gaudêncio Alves Santos (Contador municipal) e D. Alice de Carvalho Santos.
Mudou-se para Vitória da Conquista com seus pais em 1932, onde se casou com Manoelito Magalhães Melo, um dos poetas e intelectuais conquistenses e inteligente fotógrafo. Desse casamento nasceram os seguintes filhos: Maria Santos Melo, Maria Alice Santos Melo e Elísio Santos Melo.
A primeira Escola de Datilografia em Vitória da Conquista, foi instalada por D. Maria Anita Santos Melo em 1933, quando uma máquina de datilografia era pouco usada na região. A Escola de Datilografia Nossa Senhora da Vitoria funcionava na Rua da Independência, (hoje Rua Sete de Setembro), na sua residência, que iniciou as atividades com apenas uma máquina na sala da casa dos seus pais. A escola foi se ampliando de acordo com o aumento da procura por parte dos interessados.
Ela era técnica em datilografia e ensinou o manejo desta máquina a centenas de conquistenses. Na época, uma máquina de datilografia era uma grande novidade da mesma forma que um computador fora em 1980.
A Escola de Datilografia tinha um significado social muito grande para os alunos. O exame final era marcado depois do cumprimento da frequência e a colação de grau era muito bem organizada.
As fotografias antigas retratam o dia do exame final e mostram a presença de personalidades de destaque da cidade à época da solenidade de formatura, a exemplo do técnico laticinista Ivo Freire d’Aguiar, os professores Mário Padre e Rostil Matos, a professora Elza Profeta, o literato e advogado rábula Américo Moreira e o jornalista Luís Gomes Bastos (Lugoba).
No exame final, a professora Maria Anita abria a sessão e convidava a Banca Examinadora que era composta por três pessoas para iniciar os trabalhos. Nesse dia, as mesas da escola eram bem arrumadas e as máquinas de datilografia eram colocadas em fila.
Os textos que seriam datilografados pelos alunos eram escolhidos e sorteados entre eles. A Banca marcava o tempo para começar e finalizar o exame. Os alunos eram classificados da seguinte maneira: “distinção e louvor” para quem não errava nenhum toque, “1º Lugar” para quem cometesse até 6 erros e “2º Lugar” para quem cometesse até 7 erros. Aos que erravam muito era dada uma nova chance para fazer outro teste ou repetir o teste feito anteriormente.
Após o encerramento, o professor Everardo Públio de Castro fazia um discurso, falando da importância do curso de datilografia e da professora Maria Anita. Em seguida, todos cantavam o Hino Nacional e por fim eram entregues os diplomas já assinados pela Banca Examinadora. O momento era registrado, por meio de uma fotografia com todos os formandos e a Banca.
O diploma do Curso de Datilografia tinha grande significado para alguns alunos, que comemoravam o acontecimento com festas em suas residências e providenciavam para que o certificado fosse emoldurado e colocado na parede de suas casas, com muito orgulho dessa conquista.
A ilustre professora Maria Anita faleceu no dia 09 de janeiro de 1979, aos 65 anos e seu sepultamento foi no dia 10 e na Capela do Cemitério foi celebrada uma missa de corpo presente pelo Bispo Diocesano D. Climério de Almeida.
O Memorial HFC sente-se honrado em homenagear Maria Anita Santos Melo, por ser a pioneira no ensino de Datilografia e por ter contribuído para a história conquistense.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fontes:
Revista Histórica Taberna ad História. História da Educação em Conquista. Luís Fernandes. Agosto, 2013.
Revista Histórica de Conquista. Volume 2. Aníbal Lopes Viana.
HOMENAGEM A CARLOS JEHOVAH BRITO LEITE
(Escritor, Poeta, Teatrólogo, Incentivador Cultural, Bancário)
Nasceu no dia 07 de novembro de 1944, na cidade de Vitória da Conquista, na Bahia. Filho do comerciante José Alexandre da Silva Leite e Valdívia de Brito Leite.
Muito inteligente, demonstrou muito cedo sua vocação para a poesia e cronista literário, como atestam as publicações feitas pelas colunas de “O Jornal de Conquista”, na secção “Assim & Assado.” Publicou dois livros de poesias: Cicatriz em 1973 e Quotidiano em 1980. O Livro Cicatriz foi prefaciado pelo consagrado poeta e crítico literário Camillo de Jesus Lima, que em um trecho do prefácio disse:
“O que mais me impressiona na poesia de Carlos Jehovah é a sua marca de originalidade. Ninguém pode condenar o poeta de não usar meias palavras. Ele está absolutamente ajustado à sua época e este, ao meu ver, é o seu maior valor.”
O escritor Hermes Lima, membro da Academia Brasileira de Letras, assim se manifestou sobre o Livro Quotidiano:
“Eu o felicito pelos poemas do Quotidiano, reveladores de uma ambiência social em que trabalhos, penas e sacrifícios semeiam as esperanças com que sonha o poeta.”
Em 1980 é lançado pela Editora José Olímpio o livro Auto da Gamela que ele escreveu junto com Ezechias Araujo Lima, sendo prefaciado pela grande escritora Raquel de Queiroz, sendo bem aceito em vários lugares do Brasil. O Auto da Gamela foi muito elogiado e pode seguramente ser colocado ao lado do Auto da Compadecida (de Ariano Suassuna) e de Morte e Vida Severina (de João Cabral de Melo), pela relevância da narrativa do poeta, em contar a breve vida de uma criança nascida no sertão, num cenário de muito sofrimento.
A encenação do Auto da Gamela ganhou o Prêmio Braskem de melhor direção, em 2007.
Carlos Jehovah foi um dos fundadores da Casa da Cultura e como também da Academia Conquistense de Letras. Depois se tornou Presidente da Casa da Cultura e ocupou a cadeira número 3 da Academia.
Foi o fundador e diretor do Grupo de Teatro Avante Época, que apresentou com sucesso muitas peças teatrais para o público conquistense e em outras cidades da região, recebendo muitos aplausos.
Foi bancário por mais de quarenta anos, sendo admitido em 1963, no Banco Econômico da Bahia e se filiou ao Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista em 1967, sendo o associado no. 159. Participou de greves e outras lutas da categoria. Ocupou no Sindicato, os cargos de diretor do Conselho Fiscal, diretor de Cultura e Formação Sindical e diretor de Aposentados e Assuntos Previdenciários.
O poeta Carlos Jehovah ícone da cultura conquistense, tinha o dom de descobrir talentos nas diversas áreas artísticas, mediante sua grande sensibilidade. Incentivou várias pessoas a ingressarem no mundo das artes e esteve sempre presente em todas as iniciativas, para promover o desenvolvimento da cultura conquistense.
As suas obras tratam sobre a luta do homem sertanejo pela sua sobrevivência e descreve com maestria a grande desigualdade social existente no país e com o seu olhar de sonhador, revela nas suas narrativas que um mundo mais justo é possível.
O Teatro Municipal Carlos Jehovah, localizado na Praça da Bandeira, em Vitória da Conquista, foi feito em sua homenagem e inaugurado em 1982.
Foi condecorado com a Medalha 2 de Julho na 39ª. Sessão Especial da Assembleia Legislativa da Bahia Itinerante, em Vitória da Conquista, no dia 15 de setembro de 2011.
Faleceu aos 76 anos no dia 31 de dezembro de 2020, deixando um legado de muito trabalho e luta pela cultura conquistense e várias obras como: Ciranda dos Ofícios, Águas do Meio-Dia, Epístolas dos Cavalheiros do Sol, Poema do Povo Negro, Vesperal de Luas, As Contas da Ira, Hinos da Rebelião e Corpo Morto (escrito em parceria com o escritor José Mozart Tanajura).
O Memorial HFC sente-se honrado em homenagear o grande escritor Carlos Jehovah nessa data, que ele estaria completando 77 anos de vida.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fontes:
Revista Histórica de Conquista – Volume I - Anibal Lopes Viana
Internet
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PRECE A MINHA MÃE (Poesia extraída do Livro Cicatriz de Carlos Jehovah)
A ti, ó minha Mãe,
entrego a minha vida.
e por Nossa Senhora, confesso que só a ti, adoro e venero.
A ti,
os Anjos todos abrem as portas dos céus
e a Deus clamam misericórdia.
A ti,
o sino do paraíso anuncia as boas-vindas!
A ti,
ó minha Mãe,
dedico a minha vida.
em troca do amor que me tem sempre oferecido de coração.
Unidos,
vejo o céu e a terra proclamando o teu nome santo.
Em ti está
a lágrima mais sofrida do mundo.
Em ti está
a reprise infinita do verdadeiro amor.
Em ti está
a alma mais querida da que se tem notícia.
Em ti está
o sofrimento santo da Virgem Santíssima.
És santa!
És lembrada!
És consoladora!
Ó minha Mãe!
Tu és a empreendedora do bem.
Tu te deixas ser vencida
pra ver seu filho vencer.
Tu te entregas aos sacrifícios
pra não ver teu filho sofrer.
Creio
na palavra de minha Mãe porque ela não sabe mentir.
Creio
no coração da minha Mãe porque ela não sabe negar.
Creio
na minha Mãe porque ela tem qualquer coisa de Santa.
HOMENAGEM A AURINO CAJAÍBA DA SILVA
“Gostaria de ser a arte e não o artista”. (Escultor Cajaíba)
Aurino Cajaíba da Silva nasceu na cidade de Itaquara, na Bahia, no dia 25 de novembro de 1917.
Foi cabeleireiro, músico, poeta e fotógrafo e inspirado em suas fotos começou a esculpir. O material utilizado por ele em suas esculturas, era cimento, ferro e areia, a qual peneirava em uma fralda para obter a textura ideal do acabamento das obras.
Foi criado em Jequié e depois veio para Vitória da Conquista na década de 1950, onde se estabeleceu na Rua do Cruzeiro, num casebre bem simples e começou a fazer as suas obras.
Casado com D. Gertrudes Francelina Oliveira, tiveram 08 filhos. Sua grande companheira que o acompanhava em seu processo de modelagem até a madrugada, segurando uma lamparina.
Ele começou a fazer as imagens de vultos históricos e dizia que “ia deixar a História do Brasil feita de cimento e ferro para as crianças aprenderem”. Fez também nessa fase figuras do cotidiano.
Na segunda fase do seu trabalho, começou a fazer bustos de corpos femininos, porque segundo D. Gertrudes “ele sempre enaltecia as mulheres e gostava de fazer mulheres nuas”.
Em 1974 ele fez uma escultura emblemática, onde uma criança tem um buraco no estômago, a boca aberta e acima de sua cabeça uma mão cheia de anéis segurando um pão, simbolizando assim a fome de muitos e a riqueza de poucos.
Foi o autor de obras como os Soldados expostos em frente ao Tiro de Guerra, na praça Sá Barreto, a imagem de São Cristóvão na cidade de Itambé-BA e outras localizadas no Estado de Minas Gerais.
Em dezembro de 1967, a Revista Manchete publicou uma reportagem em quatro páginas, com o título de “A História Fantástica de Cajaíba” que descrevia a sua vida cheia de dificuldades financeiras, sendo ele, um artista muito bom e ignorado pela cidade.
Em maio de 1968, o Jornal São Paulo publicou uma matéria com o título “Esculpiu a História do Brasil no Sertão, à luz do candeeiro”. Nesse mesmo ano, foi convidado da Hebe Camargo, em seu programa na TV Record. Depois de algum tempo, expôs suas obras na Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Em 1977, Cajaíba foi consagrado no curta metragem; “Cajaíba: Lições de Coisas - O Fazendeiro do Ar”. O documentário sobre a vida do escultor Cajaíba, que foi dirigido em 1975, por Tuna Espinheira (cineasta baiano que nasceu em 1943 e faleceu em 2015), sendo visto na França, quando os franceses disseram que Cajaíba era um fenômeno.
Cajaíba quando em vida tinha como fonte financeira somente a sua arte e por vezes, com muitas dificuldades financeiras, optava por comprar o cimento para esculpir e abdicava do alimento. Ele fazia esculturas também em gesso para vender e quando solicitado, fazia de concreto como as de seu museu a céu aberto.
Recebeu um convite para construir suas esculturas no Parque do Ibirapuera em São Paulo, mas recusou alegando que seu projeto de vida e arte era ter o reconhecimento local.
Cajaíba era uma pessoa simples, inteligente, preocupado com as desigualdades sociais e dotado de uma sensibilidade muito grande. Gostava muito de crianças e o seu sonho maior era construir um grande Museu a céu aberto em Vitória da Conquista.
O tempo passa e desgasta um legado indescritível deixado pelo escultor Cajaíba, pouco divulgado e por conta disso, pouco visitado. Uma riqueza da História Brasileira que poderia estar sendo dividida com milhares de alunos, sendo contextualizado com acontecimentos históricos antigos e atuais. Um legado que pode se imortalizar a partir da herança cultural transmitida às crianças e jovens carentes de conhecimentos interdisciplinares e diferenciados que proporcionem cultura e lazer simultaneamente.
Falar do escultor Cajaíba e de sua expressiva obra é muito emocionante, pois, eu tive o privilégio de conhecer pessoalmente esse artista na década de 70 e me tornei sua amiga. Uma vez ele me disse que o pai dele queria que ele fosse alfaiate. Trago na minha memória afetiva, muitos ensinamentos passados por ele e dois pensamentos mais marcantes ditos por ele foram: “O mundo só será bom, quando as crianças nascerem sorrindo” e “O homem vale pelo que é e não pelos bens que possui”.
Faleceu no dia 25 de outubro de 1997, faltando um mês para completar 80 anos e sua morte foi em decorrência de um ataque cardíaco fulminante em uma das ruas da cidade. Seu corpo foi sepultado conforme o seu desejo: entre as suas obras, onde foi colocada uma escultura do seu busto, feita por ele para essa ocasião.
O Memorial HFC homenageia o Escultor Cajaíba e reconhece que ao longo de sua vida, procurou expressar através da sua arte, os problemas que inquietavam a sua alma nobre. Esperamos que o poder público e a sociedade conquistense despertem e invistam nesse projeto do museu a céu aberto, fazendo justiça a dedicação e lealdade do artista Cajaíba, que honrou o título de Cidadão Conquistense, persistindo em criar e imortalizar as suas obras em Vitória da Conquista, ficando aqui até o dia da sua partida.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fontes:
Internet
Cajaíba, o semeador de arte e de sonhos. Ong Carreiro de Tropa
CLUBE SOCIAL CONQUISTA
(Saudade de um Patrimônio Conquistense)
Segundo Zeniel Pereira, “A 1ª. Sede do Clube Social Conquista foi inaugurada em 15 de julho de 1945 e funcionou na Rua Maximiliano Fernandes, em frente ao atual Bradesco. No dia da inauguração não faltou música e a tuba estava presente na banda”.
Zeniel também afirma, que o assentamento da pedra fundamental para a construção da nova sede do Clube Social Conquista, na Praça Sá Barreto, foi no dia 24 de julho de 1955, tendo como prefeito da cidade, o Dr. Edvaldo de Oliveira Flores. Mais uma vez não faltou música e lá estava novamente a tuba na banda. As fotos registradas nesse dia, mostram a ausência de construções na Serra Peri Peri.
O Clube Social Conquista marcou a vida de várias gerações da cidade. Com o Sr. Ademar Galvão (um dos maiores empreendedores da cidade e que sempre teve uma visão futurista para Vitória da Conquista), na presidência, o Clube proporcionou eventos de grande significado: festas de formaturas, jantares políticos, desfiles de misses, baile de debutantes, festas juninas, shows de artistas de renome no Brasil e de outros países, apresentação de corais da cidade, bailes de carnaval e as famosas matinês (que movimentavam os jovens da época tanto para dançar, como para paquerar).
O Sr. Ademar Galvão e sua mulher Márcia Galvão fizeram grandiosas festas no Clube, que contavam com as ilustres presenças dos senhores: Eurípedes e João Cairo dos Santos, Altamirando da Costa Lima (médico), Hormindo Barros, Antenor Liberal Batista (fundador das Lojas Insinuante), Antônio de Pádua Góes, Cícero Pereira do Amorim, Evandro Gomes Brito, José Machado Costa, entre outros. Ademar Galvão trouxe para a alegria da sociedade da época, Nelson Gonçalves, Ángela Maria, Cauby Peixoto, Românticos de Cuba, Cassino de Sevilha, e muitas outras atrações.
Quando fizeram as piscinas para adultos e crianças, foi uma grande novidade para os seus associados e aos domingos, toda a área de lazer era ocupada por pessoas de várias idades. Depois foi implantado o boliche, que agradou a muitos jovens daquela época que participaram de alguns campeonatos realizados pelo Clube.
Ressalto aqui a participação de D. Stella Laranjeira Fróes, como membro da Diretoria do Clube, que realizou um excelente trabalho, com muita competência, organização e dedicação, dando todo o suporte para uma trabalho de equipe exitoso.
Temos certeza que cada pessoa que frequentou o Clube Social, tem na sua memória afetiva, algum fato para contar, vivenciado naquele espaço, uma vez que era o clube mais bem frequentado da cidade.
Infelizmente, o tempo passou e por questões de ordem financeira, o clube foi leiloado e recentemente foi derrubado. É lamentável um patrimônio que contribuiu para a história cultural e social da cidade, tenha se acabado dessa forma. E hoje, Vitória da Conquista é a terceira maior cidade da Bahia, com um polo educacional grandioso, um comércio forte, com uma expansão significativa na área da construção civil e não tem um Clube à altura da cidade.
Esperamos que o espaço onde funcionou o Clube Social, possa ser utilizado para a construção de um Centro Cultural Municipal que possa oportunizar o acolhimento de vários artistas da cidade e de toda a região sudoeste, voltado para as apresentações das diversas manifestações culturais e artísticas, atendendo assim, a grande necessidade que o conquistense tem, de espaços para se apresentar, se divertir e contribuir para a cultura da cidade.
O Memorial HFC faz essa homenagem ao Clube Social Conquista, por entender o significado que ele teve para a vida social dos conquistenses e também, para lembrar a todos, da necessidade do respeito à memória e ao patrimônio da cidade.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fonte:
https//fotosdevitoriadaconquista.wordpress.com/tag/clube-social-conquista
HOMENAGEM A LINA BO BARDI
“Naturalizei-me brasileira. Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e da fronteira”. (Lina Bo Bardi)
Achillina Di Enrico Bo, mais conhecida como Lina Bo Bardi, nasceu no dia 05 de dezembro de 1914, em Roma.
Cursou faculdade de Arquitetura em Roma durante a década de 1930. Se mudou para Milão, onde trabalhou com o arquiteto Gió Ponti, que era renomado na época.
Criou seu próprio escritório em Milão. Em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, ela enfrenta sérias dificuldades, inclusive, teve seu escritório bombardeado durante a Guerra.
Conhece o arquiteto Bruno Zevi, com quem funda a revista semanal A cultura dela Vita. Entra para o Partido Comunista Italiano e participa da resistência à invasão alemã ao país.
Casou-se com o jornalista Pietro Maria Bardi em 1946. Pietro era jornalista e crítico de arte, fundou uma galeria chamada Galleria Bardi e teve contato com vários artistas e expositores pelo mundo, incluindo Buenos Aires e Brasil.
O casal se conheceu no Studio d’Arte Palma, criado por Pietro em 1944, local de venda de arte e palco de importantes pesquisas e estudos.
Eles chegam em 1946 ao Brasil e em 1951, Lina se torna uma cidadã naturalizada brasileira. Se tornou uma das arquitetas mais importantes do Brasil.
Arquiteta, Artista Plástica, Cenógrafa, Antropóloga, Designer, Editora de Revista, Professora e Curadora de Museus.
Grande pensadora, refletia sobre tudo que observava na cidade e usava as experiências de vida, antes de fazer seus desenhos à mão.
Conseguiu unir o moderno com o popular e provou que se pode unir o simples com o plural.
Usou muito da cultura em suas obras e uniu a Antropologia à Arquitetura. Ela dizia que o espaço é algo vivido e ultrapassa números e plantas. Usou em suas obras muito dos seus sentimentos melancólicos e impulsos revolucionários e políticos.
Simplicidade, clareza e convívio foi o tripé que deu sustentação as suas obras.
Lina tem um estilo moderno e a preocupação com o entorno, e a atenção dada ao convívio entre os que interagem com suas obras.
Ela se destaca pela construção de obras com conceitos tão sólidos quanto cada um dos prédios e casas que ergueu. Lina ultrapassa as paredes dos prédios que projetava, porque pensava desde o design dos móveis até as plantas dos jardins de suas obras.
As principais obras de Lina Bo Bardi são:
A Casa de Vidro construída em 1951, no Bairro do Morumbi, em São Paulo. Foi nessa casa que ela e o marido viveram por cerca de 40 anos. É o projeto que melhor revela o seu estilo. Atualmente, é a sede oficial do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, que foi criado em 1990 com o propósito de promover a cultura e a arte do Brasil, tanto para os estrangeiros quanto para os brasileiros e é aberto ao público.
O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, mais conhecido como MASP foi inaugurado em 02 de outubro de 1947 localizado na Avenida Paulista, foi projetado por Lina. Famoso pelo vão de mais de 70 m. Foi um dos primeiros espaços museológicos do continente a atuar com perfil de centro cultural. O seu acervo é tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Foi o primeiro museu moderno brasileiro.
O SESC Pompéia foi edificado no lugar de uma fábrica com um grande objetivo: promover o convívio e encontro entre as pessoas. A obra começou em 1977 e foi terminada em 1982. Em 2016, o trabalho de Lina recebeu um prêmio incrível, sendo reconhecido pelo jornal britânico The Guardian como a 6ª melhor construção em concreto do mundo.
O projeto de recuperação do Solar do Unhão, aonde fica o Museu de Arte Moderna da Bahia, fez com que Lina adaptasse a uma estrutura tombada do século XVI, sem desrespeitá-la. Ela deixou sua forte marca ao projetar a “Escada de Lina”, um caracol que liga o térreo ao primeiro pavimento. Foi feita de madeira maciça, tem estilo moderno e foi baseada no funcionamento das rodas dos tradicionais carros de boi.
O Teatro Oficina Uzyna Uzona, popularmente chamado Teatro Oficina, localizado no Bairro Bela Vista, em São Paulo, foi fundado em 1958 por José Celso Martinez Correa. No ano de 1966, o teatro que até então possuía formato de arena, com duas plateias opostas, teve seu espaço cênico mudado por nova reforma, em decorrência de um incêndio e que contou com o projeto de Lina. Foi nesse Teatro que nasceu o famoso Tropicalismo, movimento tão importante na história brasileira, que influenciou músicos, escritores e toda uma juventude.
A reforma da Casa Benin em Salvador foi projetada por Lina.
Existem vários livros publicados sobre sua vida e inclusive, o Livro “Lina: Aventuras de uma arquiteta” escrito pela designer espanhola Ángela León, é uma biografia ilustrada para o público infantil. A obra tem 64 páginas e transporta os leitores à imaginação e aos sonhos de infância de Lina.
Lina faleceu no dia 20 de março de 1992, aos 77 anos em decorrência de uma embolia pulmonar.
Este ano a 17ª. Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, que foi aberta no dia 22 de maio, concedeu o prêmio Leão de Ouro a Lina Bo Bardi, em reconhecimento do seu grandioso trabalho na Arquitetura Brasileira.
Lina dizia: “Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito”.
O Memorial HFC sente-se honrado em homenagear essa grande Mulher que tanto fez pela Arquitetura Brasileira.
Por Ebeilde Araujo Pedreira Goulart
Fontes:
Pesquisa na internet
HOMENAGEM A STELLA LARANJEIRA FRÓES
Stella Lemos Laranjeira nasceu em 26 de setembro de 1921 na Ilha de Itaparica, na Bahia. Era filha de Alberto Laranjeira e Maria José Lemos Laranjeira.
Nascida e criada na Ilha, recebeu apenas a educação primária, muito comum para a época em que as famílias tinham muitos filhos, destinando assim uma educação secundária aos filhos mais velhos. Stella era a 8ª. Filha de uma família com 11 filhos naturais. Mas em toda a sua vida acalentou o sonho de ser professora. Não foi com diploma de uma educação profissionalizante, mas foi de forma voluntária e sonhadora, porque no futuro, mal poderia imaginar, seria a alfabetizadora dos seus filhos e dos filhos dos vizinhos, numa sala improvisada com uma mesa e um quadro apenas. Ali naquele ambiente doméstico ela realizaria o seu sonho de educadora.
Conheceu aquele que viria a ser seu esposo e companheiro em Salvador, pois o mesmo tinha por irmão o noivo de sua irmã, constituindo assim um laço familiar de dois irmãos com duas irmãs.
Stella casou-se em 08 de dezembro de 1945 aos 24 anos de idade, em Salvador, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, cuja data lhe é dedicada, com Waldemar Borba Fróes, conquistense, filho de Joaquim Fróes e Almerinda Borba Fróes.
Sua trajetória de vida tem um traço interessante e ao mesmo tempo intrigante porque tem na data de 8 de dezembro uma marca bem significativa: conheceu o seu futuro esposo, um ano depois ficaram noivos e com um ano de noivado casaram-se, passando assim a assinar o nome de Stella Laranjeira Fróes.
Transcorreram 19 anos de união, coroados com a chegada de três filhos: Antônio Fernando Laranjeira Fróes, Maria de Fátima Laranjeira Fróes e Waldemar Borba Fróes Filho.
A vida tem desfechos jamais imaginados. Ao completar 19 anos de união com seu esposo, na mesma data de 8 de dezembro de 1964, Stella perde seu companheiro, aos 43 anos de idade. Uma nova trajetória de vida lhe é imposta para que possa criar os filhos que ainda se encontravam em fase de formação e necessidade de serem encaminhados na vida e para a vida.
Stella vê a necessidade de trabalhar, uma vez que nunca havia trabalhado, a não ser nos cuidados da família e do lar, o que era muito comum para a época. As mulheres eram do lar e os maridos eram os provedores das famílias.
Foi diante da situação que surgiu a proposta feita pelo Sr. Ademar Galvão, presidente do Clube Social Conquista, para que minha mãe, Stella, fizesse parte da Diretoria do Clube e esta fosse a sua fonte de renda para o sustento da família. Com o convite, ela aceitou pela necessidade e foi dali, do Clube Social Conquista, que ela sustentou e encaminhou os filhos nos caminhos que gostariam de seguir. A nossa gratidão ao Clube Social e a todos que fizeram parte da trajetória de minha mãe se faz e se fará sempre presente enquanto vida tivermos. Ali ela trabalhou durante 15 anos e esteve presente nas diversas dificuldades que o Clube enfrentou. Mas vencemos, com as graças de Deus que nunca nos desamparou.
Veio a aposentadoria feita sob complementação à parte e eu, como filha única, já casada, a levei para morar comigo a fim de que pudesse oferecer os cuidados de filha quando fosse necessário.
Em 20 de setembro de 1993, às 18h20min, minha mãe se despediu do mundo terreno, 6 dias antes de completar 72 anos de idade, deixando como legado os ensinamentos de honestidade, integridade e amor ao próximo.
Texto por sua filha Maria de Fátima Laranjeira Fróes
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Quem diria?
(Poema por Stella Fróes)
A data 8 de dezembro
O dia da minha maior alegria
Foi o dia que casei-me
Com o ente que queria
Passou-se os anos felizes
Na minha vida de casada
Tivemos três lindos filhos
Não me faltava mais nada
Nada na vida é eterno
Chegou o dia temido
No dia 8 que tanto venero
Jesus levou-me o ente querido
Completava eu neste dia
Dezenove anos de casada
Quando a morte roubou-me o esposo
Deixando-me triste desolada
O dia 8 de Dezembro
Tornou-me a vida triste e sombria
Deu-me e levou o meu amor
A vida é assim - Quem diria?
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O Memorial HFC sente-se honrado em homenagear essa grande mulher, que mesmo não sendo conquistense, contribuiu muito para a história do Clube Social Conquista (um grande patrimônio da cidade) e que no desempenho do seu trabalho, era vista como a alma do Clube por tanta ética, dedicação e competência. D. Stella teve a oportunidade de organizar e vivenciar muitos eventos, como por exemplo: Formaturas, Concursos de Beleza, Jantares Políticos, Carnavais, Shows de vários Artistas, apresentação de Corais, Convenções de Partidos Políticos e as famosas matinês. Esses eventos marcaram várias gerações e fazem parte da história cultural, social e da memória de Vitória da Conquista.
HOMENAGEM A DONA LERA
(Brasileirinha apurada na escrita de si)
Meu nome é Aureliana Luzia de Carvalho e nasci em 13 de dezembro de 1922 no povoado da Estiva, município de Cândido Sales. Meus pais Ludovico Pereira de Carvalho e Maria Aurélia de Jesus trabalhavam na roça e eram muito religiosos. Eu, com sete anos, já ajudava meu pai na roça com um toco de enxada, e minha mãe já me ensinava a fazer renda nas horas de folga. Fui crescendo e trabalhando em todos os serviços daquele tempo. Meu pai era professor, mas nós não estudávamos, porque naqueles tempos a mulher não estudava, o estudo era só para os homens. Eles nos ensinavam a rezar e trabalhar em todos os serviços: fazer farinha, ralar mandioca na roda de mão, limpar tanque, tirar lama na gamela, ajudar minha mãe a fazer cinza, tirando d’coada para fazer sabão, fazer azeite de mamona para as lamparinas a noite, limpar café no coco para torrar, limpar arroz, fazer renda e fiar algodão para fazer coberta.
Meu pai deu para cada uma de nós um livrinho de ABC, mas ele não nos ensinava, nós tínhamos de nos virar. Eu, mais inteligente, ia para a roça e levava o livrinho. Quando o sol esquentava, nós íamos para a sombra e lá, eu acompanhava os alunos que estudavam na escola, pois era perto e os alunos estudavam em voz alta. Então meu pai descobriu que eu estava soletrando melhor do que muitos alunos, mas eu não tinha vez de passar na sala de aula. Um dia ele me chamou para eu ir ensinar três alunos que estavam amarrados nestes nomes: Carlos Magno, Cacophonia, Anphilophio e Lindolpho. Eu passei na sala de aula e ele colocou um cepo para eu sentar, os três alunos sentaram na calçada e eu ensinei a tarde toda. Assim eles aprenderam a soletrar estes nomes, pois o “p” servia de “f” e dessa forma fomos continuando com a vida.
Quando eu estava com doze anos, sem ter tomado, nem um dia de aula, já sabia soletrar todos os nomes e as orações, e eles sabiam que eu aprendia tudo, e continuava também trabalhando.
Em 1939, sofri uma grande crise de doença. Veio a seca e a necessidade de tudo. Adoeceram meu pai, minha mãe e duas irmãs de febre tifóide. Meu pai ficou três dias sendo assistido. A minha mãe estava grávida e teve o filho antes do tempo, pois a febre a deixou de cama por muitos dias. Sarou com a força e o poder de Deus, pois neste tempo não existia recurso, de médico, não tinha carro, e nem estrada. O povo nem falava em médico, tratava com purgante de azeite calcinado com remédio caseiro. Se o mal não fosse de morte, sofria, mas levantava, e com fé em Deus, tudo sarava.
Em abril de 1940, meu pai mandou uma carta para um rapaz combinando um casamento para mim. E no mês de maio, recebeu a carta de resposta na qual ele aceitava o casamento. Meu pai encomendou esta carta sem nunca ter me mostrado, eu só fiquei sabendo porque minha mãe me contou. Assim correu o tempo de noivado, ele ia muito na minha casa, mas não me via, eu via ele apenas de traição (escondido) para meu pai não saber. Fui à casa dele apenas uma vez, no dia 2 de agosto, dia da saída, pois íamos casar no dia 23 do mesmo mês.
No dia 23 de agosto de 1940 casei-me com Manoel Lacerda de Carvalho. Com dez dias de casada fui para minha casa, não me faltava nada. Aprendi a fazer requeijão que até então não sabia fazer. Foi uma vida boa.
Em 1942 ganhei o meu primeiro filho, nasceu de sete meses e foi um trabalho para poder criar, mas, de repente, foi crescendo e ficando gordinho. Era o encanto da minha vida, mas quando estava com 14 meses adoeceu e nós fomos tratando sem colher resultado. Assim fomos levando a vida. Com dez anos de casada o meu esposo adoeceu, apareceu um cravo seco por cima da mão e ele continuou trabalhando, até que virou uma ferida crônica e foi preciso cortar o braço. Ele viveu mais dez anos, mas não fez mais nada. No dia primeiro de julho de 71, ele faleceu.
Vivi com ele por 31 anos. Neste período eu ganhei 11 filhos, dos quais 5 nasceram doentes e 6 sãos. O primeiro que ficou doente aos 14 meses de nascido, sofreu e morreu aos 18 anos. Nestes 31 anos de casada a minha vida foi lutar com o marido e os filhos doentes. Morreram 6 filhos e o meu esposo.
Antes do meu marido morrer, no dia 20 de janeiro, Padre Pedro veio celebrar uma missa em minha casa e me chamou para eu viver em comunidade. Daquele dia em diante ia nascer uma comunidade e que eu fosse trabalhar, anunciando a palavra de Deus para todos. Respondi sim, eu aceito, só que não entendo da Bíblia, mas com muito amor eu aceito. O padre me respondeu que era muito fácil comprar uma Bíblia e pedir umas explicações, e, assim mesmo eu fiz.
Começou no mês de fevereiro de 71, a plantação da comunidade e o meu esposo já estava doente. No dia 1° de julho ele faleceu e eu fiquei na solidão, mas não parei a caminhada. Nos reuníamos em um prédio escolar, havia dias em que eu saia sorrindo, e outros em que saía chorando, mas nós confiávamos em Deus, que um dia nós poderíamos construir uma igreja. Com a fé em Deus, a força da união de todos da comunidade, os padres italianos e o prefeito que nos ajudou, hoje, temos a nossa casa de oração, onde todos se sentem felizes.
Quando fiquei viúva, naquela solidão, eu chorava, eu cantava, até achar conformação. Fiquei com três filhos para acabar de criar, mas Deus não desampara ninguém. Veio o direito da aposentadoria com 4 anos que eu tinha ficado viúva. Eu me aposentei graças ao nosso bom Deus de amor, poderoso que me ajudou a acabar de criar meus filhos legítimos e um adotivo que acolhi com 21 meses e hoje está com 20 anos, graças a Deus.
Ao ficar viúva, estava com 50 anos de idade e hoje, estou com 75 completos. Estes 27 anos de vida, voltados para a comunidade, foram de vida nova. Nasci de novo, foi uma ressurreição para mim, foi uma páscoa. Só não vivo mais contente, porque não posso mais cantar o que era um prazer na minha vida, mas agradeço a Deus por tudo. Graças a Deus. Amém. Ano 1998.
Obs. A minha residência, desde quando eu nasci, é a Estiva. Me criei, me casei e moro na Estiva. Nos meus documentos está marcado meu nascimento no dia 31 de dezembro de 1922, mas eu nasci no dia 13 de dezembro de 1922. O meu abraço.
Aureliana Luzia de Carvalho.
Comunidade da Estiva
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BRASILEIRO APURADO
(Aureliana Luzia de Carvalho)
Seu moço não faça vaia
de um roceiro mal trajado
porque tem suas mãos grossas
e o seu rosto queimado
porque pega na enxada
cava o chão ressecado
É seu patrício seu moço
É brasileiro apurado
Quando dá a tardezinha
vai pra seu rancho cansado
E o sol detrás do morro
vai entrando avermelhado
E os raios das estrelas
espalhando em seu roçado
É seu patrício seu moço
É brasileiro apurado
O pobre homem roceiro
já vive muito cansado
trabalhando como burro
e não é valorizado
Ajuda o grande a crescer
e ele fica lá jogado
É seu patrício seu moço
É brasileiro apurado
O pobre do lavrador
não é mais acreditado
compra e não pode pagar
ninguém mais vende fiado
Vai perdendo o seu valor
vai ficando lá encostado
É seu patrício seu moço
É brasileiro apurado
Sua luta é tão grande
colhe pouco resultado
Pra São Paulo ele vai
deixa a família e o roçado
Toma a passagem emprestada
paga um jurão danado
É seu patrício seu moço
É brasileiro apurado.
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LETRAS DO CORAÇÃO
(Heleusa Figueira Câmara, 2006)
(…) O escrito do autodidata costuma vigorar como surpresa, curiosidade de textos menores àqueles cujo itinerário de formação educacional estabelece paradas em escolas, quartéis, conventos, salões e outros espaços de aprendizagem. O percurso, às avessas de D. Aureliana Luzia de Carvalho, começa em 1929, ao aprimorar o ouvido para dar luz aos olhos e (des)costurar a autoridade paterna e os costumes da terra, no povoado de Estiva. (...) Aprender a ler, a escrever “de traição” e poder contar esse acontecimento como ultrapassagem aos limites posicionais é acontecimento de alguns resistentes. A questão é ainda mais complexa, pois interpretações diferenciadas, analogias e metáforas não autorizadas, e que fogem ao contexto do horizonte erudito, das instâncias sociais de saberes instrumentais, capazes de orientar escritas e leituras admissíveis, são vistas com desprezo e desconsideradas. Precisam ser repensadas as experiências de autodidatas mobilizados pelos desejos de reinventar suas vidas, determinados em mudar o status quo vigente, de tantas classificações histórico-posicionais atravessando as injunções a que se encontram submetidos por outros grupos sociais. (...)
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Fonte:
CARVALHO, Aureliana Luzia de. Brasileiro Apurado: lembranças da Estiva. Proler/UESB. Vitória da Conquista, 2006.