Primavera de Museus 2021
Primavera de Museus 2021
PINGOS DE ONTEM:
Fragmentos de um tempo em que as pessoas se comunicavam através de cartas.
15ª SEMANA DA PRIMAVERA DOS MUSEUS
Tema: MUSEUS: PERDAS e RECOMEÇOS
(A memória faz renascer a necessidade de se preservar o passado e o que ele representa para o presente e a projeção para o futuro)
O Decreto Presidencial no. 8.124 de 17 de outubro de 2013 regulamentou a Lei 11.904 de 14 de janeiro de 2009 e a Lei 11.906 do mesmo ano, criando o Estatuto dos Museus e o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), respectivamente.
“Consideram-se Museus, para efeitos desta lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação e estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento."
Esta lei prevê os princípios dos museus como a valorização da dignidade humana; a promoção da cidadania; a valorização e preservação do patrimônio cultural e ambiental; a universalidade do acesso, o respeito e a valorização à diversidade cultural; o intercâmbio institucional e o cumprimento da função social, devendo todos os museus elaborar o seu Plano Museológico.
Os Museus são instrumentos de preservação da memória cultural de um povo e responsáveis pelo patrimônio material e imaterial do país.
O IBRAM é uma Autarquia vinculada ao Ministério do Turismo, é o órgão gestor da Política Nacional de Museus e tem como um dos principais objetivos a promoção de programas e projetos voltados à organização, gestão e desenvolvimento dos museus.
O IBRAM trabalha pela melhoria física e estrutural dos Museus, por uma maior articulação e intercâmbio do setor museológico e pela ampliação e democratização do acesso ao público às suas instituições de memória. Os museus por serem lugares de transformação social e de desenvolvimento, também estão entre as prioridades do Instituto, o incentivo e a criação de ferramentas que permitam a ascensão social de todos aqueles que têm desejo de memória.
A Primavera dos Museus é uma ação anual coordenada pelo IBRAM, com duração de uma semana, que visa mobilizar os museus brasileiros a elaborarem programações especiais voltadas para um mesmo tema, o qual é escolhido todo ano pelo próprio Instituto Brasileiro de Museus.
A primeira Semana de Primavera dos Museus aconteceu em 2007 tendo com o Tema: Meio Ambiente, Memória e Vida, com a participação de 300 Museus e 874 eventos na programação.
A 15ª Semana de Primavera dos Museus desse ano tem como tema Museus: perdas e recomeços. A intenção da escolha do tema proposto pelo IBRAM é refletir a função dos museus no mundo contemporâneo, especialmente, nesse momento de Pandemia vivenciado por todas as pessoas do Planeta e como devemos superar esse momento, buscando reinventar ações efetivas que proporcionem um ressignificado do que perdemos, para um novo recomeço de encontro com o saber fazer de um povo.
O Memorial HFC em consonância com o tema revela que os manuscritos da autobiografia de Maria Stella Moraes Figueira (Genitora de Heleusa Figueira Câmara), foram consumidos pelo fogo num acidente doméstico, que inclusive, já tinha o título “FLORES E URTIGAS DO MEU JARDIM”, escolhido por ela. Infelizmente o livro não foi publicado, mas poderá vir a ser.
Como a Professora Heleusa Figueira Câmara construiu um valioso acervo ao longo do seu primoroso trabalho na área da Educação, Cultura e Memória, inclusive, sobre a memória da sua Família, a equipe que está trabalhando na construção do Memorial em sua homenagem, resgatou inúmeras cartas manuscritas por sua mãe, Maria Stella, endereçadas aos seus familiares e dessa forma, foram encontradas algumas narrativas dos manuscritos perdidos, onde ela explica a sua paixão pelos jardins e as flores e diz que, a urtiga simboliza as dificuldades que surgem em situações da vida cotidiana, mas que devem ser superadas com determinação e coragem e a autora afirma que cultivar os jardins e respeitar a natureza: ”É buscar a sabedoria da simplicidade do bem viver”.
Essas cartas poderão contribuir para o renascer de uma publicação do seu sonhado Livro “Flores e Urtigas do meu Jardim”, como uma homenagem póstuma à autora.
A Exposição “PINGOS DE ONTEM” mostra os fragmentos de cartas escritas por Maria Stella para seus familiares, entre as décadas de 1930 a 1960, numa época em que as pessoas se comunicavam por cartas e telegramas, valorizando grandemente a profissão dos carteiros, que eram esperados com muita alegria e entusiasmo.
As cartas de Maria Stella são tão verdadeiras e cheias de detalhes que a gente ao ler consegue viajar no tempo e criar imagens sobre os fatos narrados.
Segundo o escritor francês Marcel Proust em seu livro, Em Busca do Tempo Perdido, que se tornou uma das obras mais importantes da literatura mundial, diz que a memória é uma evocação do passado. É a capacidade humana de reter e guardar o tempo que se foi, salvando-o da perda total. A lembrança conserva aquilo que se foi e não retornará jamais. É nossa primeira e mais fundamental experiência de tempo.
Para Proust, como para alguns filósofos, a memória é a garantia de nossa própria identidade, o podermos dizer “eu reunindo tudo o que fomos e fizemos a tudo que somos e fazemos.” Ele dizia que a verdadeira viagem se faz na memória.
Segundo Heleusa Figueira Câmara “A memória só grava o que passa pela emoção”.
Além dessa dimensão pessoal e introspectiva da memória, é preciso mencionar sua dimensão coletiva ou social, isto é, a memória objetiva gravada nos monumentos, documentos e relatos em narrativas orais e escritas da História de uma Sociedade.
O Memorial HFC afirma o compromisso de ampliar o olhar e o diálogo com o que já existe, com o que pode ser produzido e respeitar a memória como base de toda a existência humana e trabalhar sempre nessa direção.
Por Ebeilde Araujo P. Goulart
Fontes:
Em Busca do Tempo Perdido. Marcel Proust.
PINGOS DE ONTEM
Fragmentos de um tempo em que as pessoas se comunicavam através de cartas.
(Trechos de cartas de Maria Stella de Moraes Figueira para seus familiares entre as décadas de 1930 e 1960)
01/05/1967
Meu papai tão querido,
(...) Qual não foi minha tristeza ao receber hoje a carta de Heloisa, avisando que a ida de Harold para a Groenlândia havia sido cancelada e que ele recebera ordem para ir ao Vietnã. (...) Harold passará o mês de maio com a família, em junho irá para Carolina treinar no novo tipo de avião de bombardeio e em julho estará no Vietnã. Fiquei doente o dia todo e não penso em outra coisa! Que destino teve Heloísa! (...) Ela escreveu que Harold está numa tristeza de fazer pena! Ele é um ótimo marido e pai. (...) Estou pensando que seria melhor que ela viesse para cá, mas não sei se lhe dariam assistência fora dos E.E.U.U. (...)
14/09/1967
Meu querido papai,
(...) Harold está achando horrível a guerra, o calor insuportável os mosquitos, a saudade da família que tanto o fazem sofrer. Ele está na Base Phan Rang. (...) Se acontecer algo com esta base, o senhor sabe que nela está Harold, coitado! (...)
SET/1958
Minha filha querida Helena,
(...) O mundo está perdido! Ontem prenderam diversos rapazinhos de família e dizem que eles não apontaram ainda todos da quadrilha. Alugaram um cômodo no Alto Maron para depósito do que roubaram. Um deles é filho de X, o delegado; o outro foi aluno de Rosália, filho de gente rica e direita. Soube que sr. Y teve uma crise de choro ao ver o filho entrar na cadeia. (...) A tal quadrilha é composta de 20 moços, muitos deles cursando o científico aqui na E. Normal. Eles entraram três vezes na E.N; roubaram três filtros, máquina de escrever, etc. (...)
14/02/1967
Meu querido papai,
(...) A situação econômica em Conquista é crítica, é uma calamidade. Já houve muita falência e letras protestadas. Para aumentar a confusão vem o tal do cruzeiro novo. Estou com pena do analfabeto que vai ser ludibriado pelos espertalhões. (...)
1961
Minha filha querida Helena,
(...) A mesa é até interessante. É redonda, de fórmica. Essa parte branca gira, de for-ma que é prático mesmo; só que é preciso usar jogo americano. A mesa é enorme, mas tão fácil da gente servir! Não é preciso pedir; com o dedo mínimo a gente roda e a travessa chega a nossa frente. (...) Por falar em receita aí vai esta que experimentamos hoje; é coisa fina, gostosíssima (...)
PAVÊ
200 gramas de biscoito Maria (ou maizena)
Faça uma calda de 3 colheres de chocolate e um copo de leite, deixe esfriar.
Faça um creme com 4 gemas, 1 lata de leite condensado e 1 lata de leite de vaca. Leva-se ao fogo para engrossar e deixe esfriar.
Bate-se as claras em neve, junta 8 colheres rasas de açúcar e por último o Creme de Leite Nestlê.
Maneira de arrumar: coloca-se no pirex o creme amarelo, em seguida o biscoito com o chocolate e por último as claras com o creme de leite. Leva-se ao congelador.
Faça quando tiver muita gente, pois rende muito. É finíssimo. (...)
17/08/1933
Esperança, doce amiga!... 7h15 Terei notícias?!
18/08/1933
Carteiro!... Olha o carteiro! Nem olhei. Minutos depois vem o Papai mostrar-me uma carta que lhe endereças-te e junto um delicioso cartãozinho que antes de ler tive de beijar repetidas vezes. Meu Amor! meu Ubaldino querido!... já me escreveste, não é? Como fiquei contente radiante, inexplicavelmente comovida… (...)
1933
Bom dia, meu Dininho
A Tua carta do dia 26-27, está à minha frente. Li com o coração palpitante, possuída de uma alegria emocionante, as palavras que enviaste. Oh! que maravilhosa carta! (...) A felicidade é tão rara… eu que a possuo devo ser ciosa, devo ser até egoísta. Esta felicidade está no Dininho, bem o sabes!... Ele é tudo para mim: - é bonito! é um Apolo; é bom! é quase divino; é inteligente! é Ruy Barbosa; é cortês! é educado! é grande! é o Meu Ideal!! (...)
1960
Helena, minha querida,
(...) Vou escrever alguma coisa pra deixar para os netos. Algum há de ter essa mania da avó de gostar de tradição, de conhecer o passado da família. (...)
11/05/1960
Querida filha Heleusa,
A velha mania! Os galos ainda cantam e eu já estou acordada, insone, com vontade de escrever, ou bordar para distrair. (...) Geralmente os velhos acordam muito cedo, mas comigo isso acontece desde meu tempo de menina. Até que enfim sua carta chegou. (...)
25/11/1960
Helena querida,
(...) Quando tenho inspiração, escrevo sobre o passado e me distraio muito. O caderno já está quase no meio. Foi uma bênção inventar isto. Não cheguei ainda no período atual de minha vida, de forma que não posso me desabafar. Já pensei em fazer dois cadernos. (...)
1957
Minha querida Helena,
(...) Estou, desde terça às voltas com a gripe de Heleusa. Ela voltou do ginásio já doente. Chamei o Dr. Barreto. Ele acha que é a asiática, porque trata-se de sintomas diferentes. Ela, na primeira noite delirou e eu quase fiquei maluca. No dia seguinte comprei um termômetro e dei graças a Deus por não o ter na noite anterior, porque teria fica-do assustadíssima; ela estava mais calma e estava de dia, com 39,7. (...) Já foram registrados 256 mil casos de asiática no Brasil. Inúmeros colégios ficaram fechados e agora já reabriram por isso, eu penso que a gripe está benigna. (...)
23/08/1959
Querida filha Helena,
Mais uma cartinha sua que muito me alegrou. Chegou ante ontem com o livro. (...) Helena, você sabe que a varíola está grassando por toda parte? Em B.H. estão vacinando a população. Aqui foi um caso sério, principalmente na classe mais elevada. Foi até interessante observar esse fenômeno. Acho bom você vacinar Stella Márcia e Cláudia imediatamente. Não se descuide! (...)
PINGOS DE ONTEM
Fragmentos de um tempo em que as pessoas se comunicavam através de cartas.
(Trechos de cartas de Maria Stella de Moraes Figueira para seus familiares entre as décadas de 1930 e 1960)
31/08/1958
Helena, filha muito querida.
(...) A parada foi muito bonita. A Escola Normal tirou o 1º lugar. Apresentou D.Pedro a cavalo, com inúmeros acompanhantes: Maria Quitéria; Joana Angélica, numa carreta muito bem arranjada, à porta do convento enfrentando o soldado; Ana Nery, um índio; escravos; os Estados, a República, balizas, grupo de atletas. O ginásio saiu-se bem, três balizas (Edilce uma delas), gregas (Heleusa carregou uma torre de petróleo) carregando riquezas do Brasil, meninas levando bandeiras de todos os países das Américas, República, Justiça, 11 jogadores da copa. A nota cômica foi o mascote do Tiro X, vestido de soldado, parecia um sapo. Um jeep cheio de atiradores e Dalva uniformizada em pé é a madrinha do Tiro de Guerra. (...)
02/10/1958
Helena, filha muito querida.
(...) A política deste ano, foi a pior que já tivemos. Nunca vi tanto fuxico, tanta discussão, tanto insulto. A força federal veio para garantir a ordem, no dia da eleição que houve muito bate boca, mas não passou disso. No último comício eu falei. Foi uma bomba atômica! Tomei o nome de incendiária. Só você vendo, como eram feitos os convites para o comício; era uma espécie de comício ambulante; sempre gente de bem no alto-falante, anunciava os desmentidos que fariam e apresentavam o que haveria de atraente. Gerson gastou demais convidando artistas do Rio: Jararaca e Ratinho, Adelaide e Silvinha Chiozzo, uma banda de música cubana só de mulheres, uns índios do Amazonas, etc. No último eu concordei em falar, porque não haveria réplica. Saíram anunciando meu discurso. Fiquei amedrontada, mas fui de sorte e falei muito melhor que o da outra vez. (...) Foi o discurso mais comentado e de efeito formidável. (...)
03/09/1966
Minha irmãzinha querida.
(...) Fiz feira e depois fui ver o supermercado que foi inaugurado ontem. Achei bonzinho e parece que vamos ficar livres da confusão da feira. (...) Falam que teremos televisão até o fim do ano. Sou fanática por televisão como você sabe. Adorei Moacir Franco e o Guto e gostei da beleza do Agnaldo Rayol. (...)
01/08/1968
Glai, minha querida irmãzinha.
(...) Estou ouvindo muitas novelas. Gosto de todas, especialmente de Os Rebeldes. Formidável! O Direito dos Filhos, foi melhor ainda. Penso que não vou enjoar de televisão. Adoro! (...)
25/03/1963
Querida filha Heleusa.
(...) Anteontem fui a fazenda de Vivaldo com seu pai, Heliane e Edilce. Era aniversário dele. Estavam lá: Rosália e Sr. Auto; Laura, Ninha, Otoniel, Flavinho, Jane, Lucinha, Figueirinha, as filhas de Ismênio, uma filha de Estevam, Alberto noivo de Jair e todos os filhos de Nozinha. O almoço foi o melhor que já comi numa fazenda. Leitoa assada e ensopado; galinha assada e ensopada, churrasco de vitela, farofa, macarronada, arroz, molho de pimenta. Tudo simplesmente gostoso. Passei muito bem disposta o dia e cheguei à noitinha. A casa está pintada de novo, muito espaçosa e alegre. (...)
1965
Minha caçulinha querida
(...) Heloisa escreve sempre. Gosta pouco de lá (Filipinas). Da alimentação ela conta que comem gato, cachorro, sapo, rã e pinto cozido dentro do ovo. Já pensou? (...)
PINGOS DE ONTEM
Fragmentos de um tempo em que as pessoas se comunicavam através de cartas.
(Trechos de cartas de Maria Stella de Moraes Figueira para seus familiares entre as décadas de 1930 e 1960)
02/1968
Querida Helena,
(...) Encontrei ao chegar, carta de Heloísa. O medo dela, era que bombardeassem a base onde se acha Harold. Os americanos ultimamente tem sofrido danos naquela guerra absurda e sem sentido. O senador Kennedy, irmão do ex presidente, disse essa semana: “quantas inteligências perdidas, quanta energia desperdiçada, quanto dinheiro gasto, quando poderia servir para construir habitações confortáveis nos EUA, para quem sabe modificar a atitude dos inconformados e injustiçados.” (...)
05/01/1968
Papai muito querido,
(...) Esta semana está sendo de grande preocupação, porque a guerra do Vietnã está tomando proporção alarmante de acordo com as notícias dos jornais. Um sobrinho de Harold, com dois companheiros, foram cercados pelo inimigo e se não fossem os sacos de areia teriam morrido. Harold mandou um retrato dele, junto à casa onde dorme, toda cercada de sacos. (...)
19/11/1959
Minha querida Heleusa.
(...) Precisei escrever a João Paulo a fim de mandar o cheque e uma ordem para lhe fornecer algum dinheiro, para a compra de coisas úteis de uso! Deixe os discos para outra ocasião. (...)
11/09/1955
Querida Heleusa.
(...) Depois que você viajou, não tive vontade de ir ao cinema. Assisti o SÉTIMO PECADO. Bonzinho. Seus discos estão como você deixou. Nunca mais ouvimos eletrola. Cuidado com os rapazes da juventude transviada. (...)
11/09/1955
Papai que admiro! Papai que estimo!
(...) Realmente eu havia dito a Roberto que ele poderia mandar o dinheiro de dois em dois meses. Diga a ele que chegou o CREDIÁRIO em Conquista e eu que sempre tinha inveja de quem morava nas capitais, fui a primeira a aproveitar e tenho agora prestação a pagar. (...)
25/11/1960
Helena querida.
(...) Estava aguando as plantinhas, quando Rosália chegou com o embrulho das bonecas. É bom você mencionar sempre o que recebe e eu farei o mesmo. Como você pede as duas receitas, estou escrevendo novamente. (...)
Torta Izabela - Receita
1 lata de leite condensado;
1 lata de creme de leite;
1 lata de leite;
3 gemas bem misturadas com 1 colher de sopa bem cheia de maisena;
1 pacote de bolacha champanhe e 1 lata de doce de pêssego em pedaços.
Coloca-se a bolacha no fundo de um pirex grande, raso. Despeje a calda de pêssego sobre elas.
Leve ao fogo os outros ingredientes e despeje as gemas com a maisena quando estiver fervendo deixe cozinhar um pouco.
Despeje o creme sobre as bolachas.
Polvilhe coco ralado e enfeite com o doce cortado em fatias. Faça na véspera.
Salgadinho granfino - Receita
600g de manteiga,
1 kg de farinha de trigo e Sal a gosto.
Misturar bem e enrolar os biscoitos do formato de um dedo. Passar na clara pura, passe no queijo ralado e leve para assar.
PINGOS DE ONTEM
Fragmentos de um tempo em que as pessoas se comunicavam através de cartas.
(Trechos de cartas de Maria Stella de Moraes Figueira para seus familiares entre as décadas de 1930 e 1960)
11/07/1965
Meu papai querido, mas, é muito querido mesmo.
(...) Papai, o senhor acha vantagem na ida à lua? Eu não acho, visto que gastaram fortunas, enquanto a miséria campeia em nosso mundo. Não posso ver vantagem, nesses voos espaciais. (...)
27/09/1959
Minha Leusoca querida.
(...) Gosto de ficar só, para orar. Meu ideal é construir uma capela, onde não haverá pregação; achei formidável essa oportunidade que você tem de ir à capela do colégio, para orar e meditar. Vá sempre! Ontem, quando sua carta chegou, estava deitada chorando. Comecei a ler e fiquei tão mais alegre e feliz! Chegada de carta, é como que um feriado para minha alma… (...)
19/05/1959
Minha filha querida,
(...) Temos sofrido a maior chatura com a falta de luz, dia sim, dia não, alternando nas ruas. A energia chega às 2 e fica até as 6 e meia. Depois, escuridão. Falta óleo. Aproveitando a escuridão, mataram um guarda, um tal de X, muito odiado; ele estava passando pela rua 7 de setembro, quando recebeu 3 tiros a queima roupa; não se descobriu o assassino; o crime se deu às 9 da noite. (...)
(...) Fiquei comovida com um gesto de sua avó Maricota; seu pai estava apertado pra arranjar um dinheiro que devia a Sinval; foi lá e ela falou: vem cá meu filho, eu tenho um dinheirinho escondido, mas você não diga nada aos outros, senão vai haver conversa. Levou seu pai à dispensa e num esconderijo incrível, ela tirou um bolo de notas e entregou a ele, eram 21 contos e uns quebrados. Você já pensou na sensação que ela há de experimentar ao poder juntar essa importância, ela que sofreu privação a vida toda? (...)
21/05/1959
Minha Heleusa, querida filha,
(...) A Casa de Saúde está cheia. Anteontem seu pai operou três e vão passando bem. Vou lá diariamente. Preciso fiscalizar tudo, da sala à cozinha. (...)
1962
Minha querida Helena.
(...) Helena, a varíola está atacando até gente vacinada. Vacine suas meninas! (...)
(...) Helena, não pode imaginar quantas senhoras vêm procurar-me a fim de orientá-las sobre alguns problemas sexuais! Acham talvez que por ser eu esposa de médico, devo saber responder as questões que me apresentam. Não me escandalizo, absolutamente. (...)
14/09/1967
Meu querido papai.
(...) Ubaldino foi a Ponte Nova operar as amígdalas de Susie e uma moça. (…) Foram muito felizes. Operou Susie em 2 minutos e meio e Zizinha em 3 minutos. O médico do hospital de lá ficou perplexo com a facilidade e a técnica de Ubaldino. (...)
02/05/1968
Querida filha Helena.
(...) Imagine a confusão: a X namorava um cobrador de ônibus. Ele, muito safado, arranjou uma namorada no Alto Maron e pela manhã e à tarde passeava com ela aqui pela porta. A semana passada a esposa atracou-se com a moça dentro do ônibus e foi um sururu. No mesmo dia, tarde da noite, X saiu daqui armada com um punhal e deu nele uma punhalada nas costas. Dois dias depois ele veio aqui, mostrou a seu pai o ferimento. Ele conta por aí que foi assaltado, mas ronda a casa e diz que vai dar uma surra em X. Certamente ele esconde o caso da esposa que só sabia da outra namorada. Safado! Vou perder uma boa arrumadeira. O jeito é X viajar. Fiquei estupefata! X chorou e ficou sem comer uns 2 dias. Ela chegou aqui com o nariz machucado. Diz ter ficado escondida no mato, até a rua ficar deserta. Chegou aqui depois de meia noite. O caso deu-se em frente ao Hospital Regional. Ele desmaiou e foi encontrado por 2 rapazes que o levaram para o hospital. Êta vida cheia de problema! (...)
PINGOS DE ONTEM
Fragmentos de um tempo em que as pessoas se comunicavam através de cartas.
(Trechos de cartas de Maria Stella de Moraes Figueira para seus familiares entre as décadas de 1930 e 1960)
03/03/1968
Meu papai que tanto quero.
(...) Continua chovendo sem parar. Já tivemos prejuízo com um muro que caiu no quintal da Casa de Saúde. Hoje não podemos ir ao Shangri-lá, porque aquela barragem que fica no caminho encheu e a água está passando em cima do asfalto, que está bem fraco, e acham que é provável desmoronar. Penso em escrever contando que há um mês atrás, um ônibus caiu dentro daquela lagoa e 16 pessoas morreram. Fui lá ver e fiquei admirada de não conseguir perceber nem a capota do ônibus. Não imaginava que fosse tão funda aquela lagoa. Fiquei com pena de uma senhora que escapou e perdeu o marido e três filhos. Já estava subindo o barranco com duas crianças nos braços, quando desmaiou e quando voltou a si, estava só no hospital. Um senhor de Itabuna também perdeu a família toda. Ele ficou desesperado! O governador mandou um homem-rã de Salvador e todos os corpos foram achados. (...)
14/11/1960
Minha filha querida Helena,
(...) Estou com tanta saudade de vocês, que chego mesmo a chorar. A casa está triste, silenciosa e sinto realmente falta da voz das minhas netinhas.
Recebi à tardinha, o presente pelo meu aniversário. Além de muito bonito, o sapato ficou ótimo no pé. Muito obrigada. (...)
19/01/1958
Prezado George,
(...) Daisy está um encanto! Olho os retratinhos e quase choro de saudade. Desejo tanto vê-los aqui em casa! Tomara que o tempo passe depressa! (...)
02/05/1968
Querida filha Helena.
(...) Quando eu estava saindo rumo ao Shangri-lá, um avião ia chegando. Fomos ao campo, certos de encontrar você e George. Foi uma decepção. O avião era de Eunápolis e nele estava o tal Pedro que deu tanto prejuízo ao seu pai no negócio de madeira. (...)
16/09/1966
Meu querido papai,
(...) Na casa do juiz de Conquista, houve uma série de fenômenos semelhantes àqueles da rua de Muriaé e até piores. A rua onde ele mora ficava cheia de curiosos e foi preciso colocar dois guardas na casa dele para vigiarem os curiosos e esses guardas, bem como inúmeros amigos do juiz, receberam bofetões vindos do invisível. O bispo celebrou missa na residência do Dr. Roberval, médiuns foram chamados e só depois de muitos dias a calma foi alcançada. Até a geladeira e guarda roupa saíram rodando pela casa. Açucareiro, bule, etc, ficavam rodando no chão, à vista de todo mundo e ouviram vozes também. Penso que nunca houve coisa tão impressionante. (...)
30/06/1958
Caro genro George,
(...) O Brasil está em festas com a vitória dos jogadores na Suécia. É provável que vocês tenham assistido a peleja pelo rádio. Houve um verdadeiro carnaval pelas ruas do Rio e S. Paulo. Aqui tivemos passeatas, e grande quantidade de bombas e foguetes. (...)
Junho/1961
(...) Fui na sexta-feira para a fazenda. Papai estava lá arrumando. Domingo, às 5 horas, todos estavam ali na horta, debaixo da janela, cantando: “Abre a janela Maria que é dia”, ao som de foguetes. Mamãe e Papai abriram e se debruçaram e então cantamos Parabéns pra você. Em seguida, tivemos o café reforçado. Às 7, chegou a banda de música. Tivemos churrasco, 2 perus, 22 frangos, 2 leitoas, 3 pernis, 10 kg de linguiça, tutu, arroz de forno, salada, etc. Deixei ainda doces e carnes que sobraram. Nunca vi tanta coisa! O presente, foi uma baixela de prata, inclusive o jarro pra água muito bonito. A festa foi animadíssima. Colocaram um banco enorme junto da represa. A família se reuniu para me ouvir contar o encontro com Jucelino. Dramatizei, aumentei, fiz o pessoal rir até chorar. (...)
PINGOS DE ONTEM
Fragmentos de um tempo em que as pessoas se comunicavam através de cartas.
(Trechos de cartas de Maria Stella de Moraes Figueira para seus familiares entre as décadas de 1930 e 1960)
02/04/1968
Meu querido papai,
(...) Pela televisão, vou ouvir neste instante o Repórter Esso. Parece que a guerra do Vietnã vai terminar. E é preciso mesmo que termine. O povo americano em grande maioria é contra. Ontem Heloisa recebeu carta de Harold. A base onde ele está ficou de alerta por algumas horas, mas não foi atacada. É Papai, veja se não é de cortar o coração: Débora fez 3 anos em outubro, ela saiu da copa com o pratinho de comida e foi para o quarto, sozinha, sem falar nada. Fui atrás com medo dela derramar a comida no chão. Ela havia colocado o prato sobre a penteadeira. Estava com o retrato do pai na mão e o beijava, beijava e dizia: - venha papai! (...)
04/07/1968
Meu paizinho querido,
(...) Harold deve sair do Vietnã Escreveu que havia batido com a cabeça na grade onde colocam bomba no avião, mas eu não acreditei. Eu penso que ele foi ferido em algum bombardeio e não quis contar. Levou 11 pontos, mas está bom. (...)
Década de 60
Querida filha Helena,
(...) O livro Vinhas da Ira é parecidíssimo com Seara Vermelha de Jorge Amado. A família de Vinhas da Ira, indo do sul para Califórnia, sofre o mesmo que uma família do Ceará indo para São Paulo, num pau-de-arara. Pelo caminho as mesmas vicissitudes e misérias, explorações e também o encontro com pessoas realmente bondosas e altruístas, dentro da própria vida de pobreza e luta. A humanidade é a mesma em toda face da terra. (...)
1959
Minha Heleusinha,
(...) Acabei de ler Dr. Jivago. O livro está todo cheio de anotação. Li-o mesmo para assimilar e compreender a fama de B. Pasternak. Ele merecia mesmo o prêmio. O que não gostei foi das coincidências absurdas, no fim do livro; encontros inesperados que a gente só vê em romances de DELHI. Mande logo a A Caldeira do Diabo. Nem precisa recomendar cuidado. Detesto emprestar livros como você sabe. Faça um embrulho bem feito. O retrato que veio junto com o livro Dr. Jivago chegou com a beirada rasgada, pois o embrulho estava desfeito! (...)
28/11/1958
Minha querida Helena,
(...) Domingo houve um caso grotesco, trágico e cômico. Já vi que Conquista é a cidade onde o impossível acontece… Logo depois da 1ª sessão do cinema, mataram de emboscada o dono de um bar muito limpinho, na Rua 7 de Setembro, no andar térreo de um sobrado perto da casa de Gerson. Há um mês atrás, falaram muito da senhora do X com o tal senhor, houve até papéis encaminhados para o desquite; soube que Y os pegara aos beijos. Pois bem, o moço ia chegando do cinema (6 e pouco) e a esposa entrou em casa e ele começou a abrir a porta do bar quando recebeu nas costas 5 tiros. Morreu imediatamente, aí está a tragédia e agora vem a comédia. Na 2ª sessão, todo mundo estava assustado com a tal morte. A UMAS TANTAS, surge uma discussão. Uma dona dizia a toda altura: Não saio! E o guarda dizia que saísse, que saísse! Rapazes por perto riam alto, outros gritavam. Foi logo um pânico! Muita gente saindo! Acenderam as luzes. O que é? O que é gente?!? Adivinhe se for capaz! A dona soltou um “P??” muito alto e os vizinhos protestaram, o guarda foi ver o que era, e achou que por bem da moral, devia expulsar a infeliz. O caso é inédito nas crônicas policiais. (...)
14/05/1960
Querida Heleusa,
Pelos seus 16 anos, meu abraço carinhoso e minha benção.
(...) São inevitáveis as lutas da vida e, por isso acho que devemos suplicar ao Altíssimo que nos dê um coração manso e humilde, para su-portarmos o que nos aguarda o futuro. É o que você deve fazer. A felicidade consiste realmente em sermos companheiros, bondosos, simples, despreendidos e humildes.(...)
11/09/1959
Queridas filhas Helena e Heliane,
(...) No dia de meu aniversário, levantei bem ce-dinho, varri a casa, espanei e lá para as 9h, Maria chegou com Nair. Ela enfeitou a casa com copo de leite e providenciou um almoço especial, que por sinal saiu ótimo. Ganhei: 1.500,00 de Ubaldino; um caqueiro de avenca de D. Maricota; sapato, chinelo e combinação, de Edilce e Rosália; (...) Dormi pesadamente. Levantei-me cedinho, aguei as plantas, comi canjica com amendoim e aqui estou de novo a escrever... (...)
A seleção dos fragmentos das cartas de MARIA STELLA DE MORAES FIGUEIRA para a exposição PINGOS DE ONTEM foi uma tarefa muito prazerosa, tendo em vista a excelência e quantidade dos textos encontrados.
A equipe do Memorial Profª Heleusa Figueira Câmara agradece a visita de todos que prestigiaram a Exposição PINGOS DE ONTEM durante a semana de Primavera dos Museus 2021 e também convida todos a seguir acompanhado as redes sociais do Memorial, onde outros fragmentos serão publicados.